O jornal O Globo publicou nesta quinta-feira, 6/5, o artigo Universidade Fica Inviável, escrito pela reitora e pelo vice-reitor da UFRJ, Denise Pires de Carvalho e Carlos Frederico Leão Rocha.
No texto, disponibilizado nas versões impressa e online do jornal, os professores denunciam a situação orçamentária dramática das instituições federais de ensino superior e, em particular, da UFRJ, a maior do país e a primeira criada pelo governo federal. Com os cortes sucessivos e apenas metade do orçamento disponibilizado em 2021, diversos serviços da Universidade poderão ser afetados, inclusive as pesquisas de duas vacinas nacionais contra a COVID-19 que ocorrem em laboratórios da UFRJ e se encontram em testes pré-clínicos.
“A UFRJ fechará suas portas por incapacidade de pagamento de contas de segurança, limpeza, eletricidade e água. O governo optou pelos cortes, e não pela preservação dessas instituições. A Universidade nem sequer pode expandir a arrecadação de recursos próprios, pois não estará garantida a autorização para o gasto. A Universidade está sendo inviabilizada”, diz o artigo.
Leia aqui o texto originalmente publicado no jornal O Globo na íntegra ou abaixo:
Universidade fica inviável
A pandemia da Covid-19 revelou a importância da ciência no enfrentamento de questões de risco para a sociedade. Conhecimento científico é importante no planejamento das ações de redução da transmissibilidade da doença, nos cuidados hospitalares e no desenvolvimento de alternativas de combate ao vírus, como a produção de vacinas.
As universidades públicas estão na linha de frente dos desafios postos ao país e têm sido protagonistas em diversas ações para combater a pandemia. No caso da UFRJ, realizamos testes moleculares padrão ouro por RT-PCR, enquanto a rede privada não dispunha desses testes diagnósticos. Nosso Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o maior do Estado do Rio em volume de consultas, instalou um novo CTI e mais de 100 leitos de enfermaria para tratamento da Covid-19. A assistência aos pacientes esteve associada à geração de conhecimento científico. Realizamos estudos pioneiros de vigilância genômica, identificando novas variantes dos vírus; desenvolvemos testes sorológicos, e vacinas com tecnologia nacional estão na fase de testes pré-clínicos. Nossas perspectivas de retorno após a pandemia seriam muito piores sem essas ações.
Isso se tornou possível em razão do desenvolvimento de capacitação científica, fruto de investimentos anteriores no sistema nacional de ciência e tecnologia nas universidades e nas demais instituições científicas. Em 2013, R$ 12 bilhões foram investidos pela Capes e pelo CNPq, transformando o cenário da produção científica do país. Consequentemente, durante a epidemia da zika, o Brasil liderou o número de publicações relacionadas à enfermidade, o que permitiu a identificação de suas consequências fisiopatológicas, resultando em vidas salvas pela nossa ciência.
As universidades também dobraram o número de estudantes matriculados nos cursos de graduação. Efetuou-se um importante programa de democratização do ingresso. O investimento no ensino superior passou a ser um dos mais efetivos agentes promotores da diminuição da desigualdade social, tornando-se um importante programa social do Estado brasileiro.
Desde 2013, o orçamento das universidades vem sendo radicalmente cortado. O orçamento discricionário aprovado pela Lei Orçamentária para a UFRJ em 2021 é 38% daquele empenhado em 2012. Quando se soma o bloqueio de 18,4% do orçamento aprovado, como anunciado pelo governo, seu funcionamento ficará inviabilizado a partir de julho. A UFRJ fechará suas portas por incapacidade de pagamento de contas de segurança, limpeza, eletricidade e água. O governo optou pelos cortes e não pela preservação dessas instituições. A universidade nem sequer pode expandir a arrecadação de recursos próprios, pois não estará garantida a autorização para o gasto. A universidade está sendo inviabilizada. Em dez anos, nos restará perguntar onde estará a capacidade de resposta na próxima emergência sanitária e qual será a opção terapêutica milagrosa que colocarão à venda.
A UFRJ
Maior universidade federal do Brasil, a UFRJ é a primeira instituição oficial de ensino superior do país, com atividade desde 1792 (Escola Politécnica, a sétima escola de Engenharia do mundo e a mais antiga das Américas) e organizada como universidade em 1920. Presença registrada nas 15 melhores posições dos mais diversos rankings acadêmicos na América Latina, a instituição conta, hoje, com 172 cursos presenciais de graduação, 4 de graduação a distância, 315 de especialização e 224 programas de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado). Com mais de 1.700 ações de extensão, a Universidade está perto do povo.
Segundo o Ranking Universitário Folha, a UFRJ é a universidade mais inovadora do país, o que também se deve à sua pluralidade: seu corpo social é composto por mais de 65 mil estudantes (nesse âmbito, anualmente, 5 mil se formam na graduação e 2,6 mil dissertações e teses são produzidas), 4 mil docentes (sendo que 9 em cada 10 têm doutorado), 3,7 mil técnicos-administrativos atuantes nos hospitais da UFRJ e 5,6 mil em demais unidades.
A Universidade tem estrutura similar à de um município de médio porte. Antes da pandemia de COVID-19, a Cidade Universitária, campus principal, tinha circulação diária de cerca de 100 mil pessoas por dia. Compatível com o seu grau de relevância estratégica para o desenvolvimento do país, a UFRJ formou uma sucessão de ex-alunos notáveis, como o indicado ao Prêmio Nobel da Paz Osvaldo Aranha; os escritores Jorge Amado e Clarice Lispector; o arquiteto Oscar Niemeyer; os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas; os jornalistas Fátima Bernardes e Ali Kamel; e o matemático Artur Ávila, primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, prêmio oferecido a matemáticos com até 40 anos e considerado equivalente ao Prêmio Nobel.
Uma das instituições que mais produzem ciência no Brasil, a UFRJ possui dois campi fora da capital fluminense: um em Macaé e outro em Duque de Caxias. Com projetos de ponta nas áreas científica e cultural, a antiga Universidade do Brasil tem sob seu escopo 9 hospitais universitários e unidades de saúde, 13 museus, mais de 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas e um Parque Tecnológico de 350 mil metros quadrados, com startups e empresas de protagonismo nacional e internacional.
Por Assessoria de Imprensa da Reitoria