Desde o início de maio deste ano, um surto de varíola dos macacos (monkeypox) tem preocupado as autoridades sanitárias no mundo. Os casos foram primeiramente detectados no Reino Unido, Portugal e Espanha, mas já alcançam 22 países, com mais de 300 casos atualmente. A doença é causada pelo Monkeypox, um poxvírus de circulação até então restrita a países africanos. O Monkeypox é da mesma família, mas diferente do vírus da varíola humana, doença erradicada em 1980.
Fique atento: após incubação por cerca de 14 dias, aparecem sintomas gripais, como febre alta, dores nas costas, fraqueza muscular e gânglios aumentados, principalmente na região do pescoço e abaixo da mandíbula. Em seguida, geralmente de um a cinco dias, aparecem vesículas e pústulas no rosto e, muitas vezes, na boca, braços, pernas e outras regiões do corpo. A transmissão se dá por contato com:
1) secreções respiratórias (saliva e gotículas produzidas durante espirro e tosse);
2) lesões pustulares e crostas;
3) fômites (roupas, lençóis, toalhas usadas por pessoas infectadas).
O Monkeypox é normalmente autolimitado e dura de três a quatro semanas. Os quadros têm sido normalmente brandos, sem necessidade de internação. Quadros mais graves podem ocorrer em crianças, gestantes e pessoas com imunossupressão.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro preza pela saúde de sua comunidade e tem expertise científica e médica para lidar com a doença e o vírus. Assim, já estamos nos preparando para atender à comunidade universitária, com teste-diagnóstico e orientações clínicas. Se você viajou a um país com casos de varíola dos macacos, teve contato com algum caso confirmado ou apresenta os sintomas citados, mantenha isolamento e marque uma avaliação no Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier). Se for recomendado, será encaminhado para testagem e orientação clínica. Queremos reafirmar que não há motivo para pânico. Existem vacinas e drogas antivirais para combater o Monkeypox. Além disso, a contenção dos casos é feita como 40 anos atrás para a varíola.
1. Que ações estão sendo planejadas na UFRJ?
A primeira ação foi definir a estratégia de resposta à emergência do Monkeypox, incluindo:
- formação de grupo de trabalho (GT) dedicado ao tema;
- definição do protocolo de diagnóstico, do atendimento do caso suspeito e coleta de material biológico, transporte e realização de teste molecular no laboratório de virologia;
- estabelecimento de logística de acolhimento, triagem, diagnóstico e orientação de casos suspeitos e contactantes;
- estruturação de sistema de vigilância genômica.
2. Como vai acontecer o atendimento no Needier e para qual público?
O atendimento será realizado em instalações específicas do Needier, no Polo de Biotecnologia, após contato prévio com nossa equipe para atenção individualizada. Disponibilizamos aqui nosso e-mail − consulta@needier.ufrj.br − e o telefone/Whatsapp do Needier (21 96845-8188). Vale ressaltar que o atendimento segue rigorosamente as normas de biossegurança e incluirá avaliação médica, coleta de material biológico para diagnóstico e orientação clínica.
A meta é atender os casos suspeitos e contactantes, sejam eles referenciados por outras instituições de saúde ou demanda espontânea do corpo social da UFRJ. Também está previsto o recebimento de material de casos suspeitos encaminhados de outras instituições de saúde para a confirmação laboratorial do diagnóstico.
3. Existe expectativa de chegada do vírus ao país?
Sim, já existem casos confirmados em vários países de diferentes continentes. O Brasil é um país de portas abertas, com grande fluxo de viajantes internacionais. É razoável admitir que a confirmação de caso no país seja apenas questão de tempo. O Ministério da Saúde reportou, até o momento, um caso suspeito, que precisa ser confirmado laboratorialmente. A pandemia de covid-19 trouxe à tona nossa vulnerabilidade global. Não existem mais fronteiras geográficas para o movimento de humanos, nem de patógenos.
4. As atividades relativas à covid-19 serão mantidas?
Com certeza. Neste momento, inclusive, constatamos novo aumento de casos de covid-19, o que reforça a necessidade de manutenção de um sistema de testagem ágil e continuado. Isso é fundamental para monitorar a transmissão ativa do Sars-CoV-2, detectar precocemente o aparecimento de novas variantes e delinear estratégias de controle eficientes e dinâmicas. É importante ter em mente que a pandemia de covid-19 ainda não acabou.
Rio de Janeiro, 30 de maio de 2022.
Clarissa Damaso – professora do IBCCF e especialista em orthopoxvirus;
Amilcar Tanuri – professor do Instituto de Biologia (IB) e chefe do Laboratório de Virologia Molecular
Terezinha Marta Castiñeiras – professora de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina e diretora do Needier.