Em cada dez pessoas com hipertensão, seis apresentam hipersensibilidade a uma dieta rica em sal. Entender o mecanismo pelo qual os hipertensos desenvolvem essa suscetibilidade é o objetivo do grupo de pesquisa liderado pela professora Lucienne da Silva Lara, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), também pesquisadora do Centro de Pesquisa em Medicina de Precisão, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em artigo publicado em maio na revista International Journal of Molecular Sciences, os pesquisadores apontaram a existência de três “vilões” que desestabilizam o sistema renal dos pacientes, com a retenção de sódio e líquidos. De acordo com a professora, “quando um sensor de sódio (Nax), uma proteína cinase induzida por sal (SIK) e o transportador (Na++K+) ATPase trabalham de forma elevada nos rins, ocorre aumento da reabsorção de sódio e água, e isso pode explicar o desenvolvimento da hipertensão sensível ao sal”.
Uma série de outros estudos clínicos que avaliavam a hipertensão de diferentes grupos de pacientes (gênero, etnia, condição socioeconômica e gravidade da doença) confirmou que uma dieta rica em sal causaria hipertensão. Entretanto, jamais houve consenso entre os pesquisadores sobre o que levaria à hipersensibilidade.
Utilizando um modelo pré-clínico, os autores mostraram que, em ratos sadios submetidos à elevada ingestão de sal, o trio de moléculas tem as atividades elevadas, contribuindo para a retenção de sódio e líquido. Os ratos do experimento não desenvolvem hipertensão, mas apresentam uma leve disfunção renal. Em animais hipertensos submetidos à elevada ingestão de sal, o trio desconecta-se e o sensor de sódio passa a disparar mecanismos que contribuem para a perda da função renal. Com a função renal prejudicada, os roedores alcançam níveis altos de pressão arterial.
Para os autores do artigo, a descoberta pode abrir novos caminhos na produção de fármacos que agem diretamente para manter harmônica a orquestra executada pelo trio, evitando o desenvolvimento da hipertensão sensível ao sal. O trabalho contou com a participação de alunos bolsistas de mestrado e doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) – Bolsista Nota 10 – e com o apoio das agências de fomento CNPq e Fapesp. Colaborou também a professora Minolfa Prieto da Tulane, da Universidade de Nova Orleans, Estados Unidos.