Em um estudo inédito, pesquisadores da UFRJ demonstram que as mudanças climáticas estão afetando a distribuição da cascavel (Crotalus durissus) para áreas de floresta como a Amazônia e a Mata Atlântica. Desde 1950, cientistas acreditavam que a expansão da espécie, responsável pela maioria das mortes por picada de cobra no Brasil, era decorrência do desmatamento no habitat típico das serpentes, as regiões de vegetação aberta. Todavia, recentemente os cientistas passaram a desconfiar também das alterações no clima e, em artigo recém-publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, acabaram de comprovar essa hipótese.
Métodos modernos de modelagem de distribuição geográfica em cenários de mudanças climáticas e do uso do solo foram utilizados no estudo, mostrando que 34% da expansão é explicada pelo aumento das pastagens e 23% pela redução das chuvas no trimestre mais frio, o que modificou a distribuição da espécie nas últimas décadas. “Visto que as mudanças climáticas já são uma realidade, o reflorestamento e o controle do desmatamento são, hoje, a maneira mais eficaz de conter a expansão da cascavel pelo Brasil”, destaca a professora Mariana Vale, do Instituto de Biologia, coautora do estudo.
A descoberta causa preocupação, pois a expansão da cobra peçonhenta já chega a áreas da região Sudeste antes não ocupadas pela espécie. “É onde se concentra a maior parte da população brasileira, aumentando muito as chances de acidentes ofídicos”, afirma Gabriela Guerra, pesquisadora do Museu Nacional, outra autora do estudo, o primeiro a demonstrar a expansão da distribuição de uma serpente de importância médica em decorrência das mudanças climáticas.