Com a participação do estudante de doutorado do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ, Felipe Francisco Barbosa, um artigo sobre um novo gênero e espécie de besouro tem feito muito sucesso no exterior, inclusive com destaque no New York Times. A espécie foi batizada de Xenomorphon barannowskii, que se caracteriza pela incomum ausência de asas e de élitros (estrutura protetora sobre as asas que se levanta quando o besouro voa). O inseto ficava na coleção científica da Universidade de Lund, na Suécia, para onde foi levado pelo naturalista sueco Richard Baranowski, em 1991, após uma expedição a Oaxaca, no México.
O pesquisador do Canadian Museum of Nature, Vinicius Ferreira, é coautor do estudo publicado na Zoological Journal of the Linnean Society . Além da descrição da espécie, os cientistas apresentam as hipóteses para possíveis vantagens evolutivas e é aí que o doutorando da UFRJ entra na história. Ferreira e Barbosa fizeram o mestrado juntos no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), mas, enquanto o primeiro foi para o exterior, o segundo decidiu se especializar em evolução biológica e métodos filogenéticos aqui no Rio de Janeiro.
Mistério evolutivo
As hipóteses para que o Xenomorphon barannowskii tenha se desenvolvido sem asas e élitros são duas. A primeira está relacionada com a chamada síndrome de pedomorfia, que faz com que os indivíduos adultos de uma espécie mantenham as características encontradas nas formas juvenis. No caso de besouros, significa se parecerem com suas larvas – sem élitros nem asas.
A outra possibilidade tem relação com o ambiente em que os insetos vivem. Em grandes altitudes, outras espécies de besouros e insetos possuem capacidade de voar reduzida, em decorrência dos fortes ventos mais frequentes nos topos de montanhas. Mas o que se observava era, em alguns casos, a ausência de asas membranosas. A completa perda de élitros em machos é inédita.
Os besouros estão entre os animais com o maior número de espécies conhecidas na face da Terra. Das cerca de 1,2 milhão de espécies descritas da fauna, quase 90% delas são insetos, e os besouros correspondem por cerca de 40% de todas, com números estimados entre 350 a 400 mil espécies. Para os cientistas, um número tão grande tem relação com a sobrevivência, graças aos élitros, após grandes extinções em massa, incluindo a que matou os dinossauros há cerca de 65 milhões de anos. A proteção sempre permitiu que os besouros explorem locais de difícil acesso para outros insetos alados, como frestas apertadas ou ambientes aquáticos. Não à toa que a origem do termo Xenomorphon, escolhido para nomear o gênero sem blindagem ou asas, venha do grego e significa “forma estranha”.