O aquecimento global e a poluição das águas podem estar por trás da queda na produção da promissora cultura de moluscos na Baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Com isso, o estado fluminense sofre mais um baque na economia em uma atividade socioeconômica global de relevância. A geração de vieiras (Nodipecten nodosus) para maricultura caiu de 51,2 toneladas em 2016 para 10,2 toneladas em 2022, de acordo com estudo publicado no Internacional Science of the Total Environment, no início de setembro, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e do Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG).
Por meio de análises físico-químicas e biológicas da qualidade da água em três fazendas de vieiras e dois locais próximos da baía em 2022, os cientistas descobriram que a redução da quantidade de clorofila coincidiu com a diminuição da produção da espécie nos últimos cinco anos. Os períodos mais quentes do ano, com temperaturas acima de 27°C, também podem ter contribuído para dificultar o desenvolvimento dos moluscos. Nos últimos 13 anos, durante períodos de águas mais frias e picos de clorofila, a produção de vieiras teve um aumento.
De acordo com o professor Fabiano Thompson, um dos autores do trabalho, as contagens da Escherichia coli e de bactérias potencialmente patogênicas (Vibrios) foram significativamente mais elevadas nos períodos mais quentes nas águas da região. “Isso pode reduzir ainda mais a produtividade das vieiras. Embora as causas do colapso da produção no Sudeste tropical do Brasil ainda sejam desconhecidas, os resultados sugerem que o colapso da maricultura de vieiras é fruto de um efeito negativo sinérgico do aquecimento global e da má qualidade da água do mar”, afirmou.
Há menos de uma década, a região da Baía da Ilha Grande figurava como principal produtora de vieiras no país. A vieira, assim como o mexilhão e a ostra, é um tipo de molusco bivalve – tem uma concha que se abre em duas partes. A espécie é a única nadadora entre as três e se movimenta graças a um músculo .
A produção consiste em aprisionar as vieiras em “lanternas”, gaiolas específicas assim chamadas pela semelhança com as lanternas orientais. Boias sustentam a estrutura no mar, enquanto, para homogeneizar a produção, pequenos grupos do molusco ficam em cada um dos segmentos submersos. As vieiras se alimentam de pequenas algas que filtram do mar. Quando a concha alcança mais de oito centímetros, por volta de um ano e meio após a “semeadura”, estão prontas para serem colhidas e vendidas nos mercados e restaurantes.