Para entender melhor as demandas do corpo social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Reitoria esteve presente no Auditório Samira Mesquita, do Centro de Letras e Artes (CLA), nessa quarta-feira, 24/4. Acompanhado dos pró-reitores, o reitor, professor Roberto Medronho, ouviu as questões colocadas por professores, diretores e alunos do CLA no projeto Reitoria Itinerante. “Nossa ideia é visitar todas as decanias e todas as unidades para prestar contas e ouvir a comunidade nos seus principais anseios”, afirmou o reitor. Na segunda-feira, 29/4, o projeto visitará o Centro de Tecnologia às 14h.
Junto aos pró-reitores, Medronho destacou que a situação financeira da Universidade é complexa. A instituição começou o ano com um déficit de R$ 152 milhões, essenciais para honrar os contratos que garantem o funcionamento adequado de todas as atividades. Em 12 anos, o orçamento foi reduzido pela metade, mas o número de alunos cresceu 50%. “Nós estamos numa crise orçamentária sem precedentes, mas esta Reitoria não vai medir esforços para recuperar a UFRJ”, enfatizou. Pela manhã, o reitor se reuniu com parlamentares do Rio de Janeiro para buscar recursos e também solicitou à Secretaria de Ensino Superior (Sesu/MEC) uma suplementação orçamentária de R$ 168 milhões.
O evento contou com a participação de representantes da Escola de Belas Artes (EBA), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Faculdade de Letras (FL) e Escola de Música (EM), que compõem o Centro. O decano do CLA, professor Afrânio Barbosa, listou as prioridades da gestão para que os alunos estejam seguros e as aulas aconteçam. Segundo ele, os processos avançam para garantir melhorias no oitavo andar do bloco A do Prédio Jorge Machado Moreira (JMM), que passará a contar com escada de emergência, coluna d’água e sinais sonoros. O ateliê de Belas Artes, o Pamplonão, localizado no bloco D, está em avaliação pelo Corpo de Bombeiros sobre quais medidas de segurança ainda precisam ser tomadas.
O Pamplonão segue interditado desde o início das aulas para obras de impermeabilização. Para o prédio da Faculdade de Letras, já existe projeto do Escritório Técnico da Universidade (ETU) para a revitalização do telhado e a melhoria elétrica do edifício. “Estou dedicado para que as coisas avancem integralmente”, reforçou. Barbosa também explicou aos alunos sobre a falta de ventiladores nas salas de aula do JMM. A responsabilidade é de cada unidade.
Estudantes também pediram por mais fluidez nas filas dos Restaurantes Universitários e na frequência dos ônibus internos da UFRJ. Segundo o prefeito universitário, Marcos Maldonado, o atraso da frota ocorre pelos engarrafamentos nas vias expressas que ligam a Ilha do Fundão à cidade do Rio de Janeiro. Já o reitor reafirmou o compromisso de melhorar as capacidades dos bandejões e fornecer café da manhã com alimentos mais saudáveis, negociando o fornecimento de produtos orgânicos com cooperativas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
O diretor do ETU, Roberto Machado Corrêa, reforçou que existem projetos prontos para serem executados, mas que a falta de orçamento impede a realização das obras. De acordo com dados que ainda estão sendo levantados no sistema de gestão técnica do patrimônio imobiliário, o Reab (ETU/UFRJ), é preciso em torno de R$ 760 milhões para a recuperação dos prédios da Universidade. “A maior parte (dos problemas) não se consegue resolver porque não tem dinheiro suficiente”, destaca o diretor. Mesmo com o orçamento restrito, as obras de escoramento em mais um bloco da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) começarão na semana que vem. Além disso, na UFRJ, são 14 prédios tombados e isso gera cuidados específicos nas reformas, o que espanta as empresas candidatas a realizar a empreitada.
Em busca de recursos
A busca pela recomposição orçamentária é uma luta de toda a UFRJ. Por isso, o reitor considera justa as formas de manifestação que o corpo estudantil, docente e técnico-administrativo tem buscado para exigir melhores condições para a Universidade. “Não haverá nenhuma repressão aos grevistas. O direito de greve é constitucional e deve ser respeitado”, afirmou Medronho. Interpelado por uma estudante da plateia, o reitor esclareceu que o abono de faltas para estudantes que participarem de manifestações deve ser discutido com os chefes de departamento, coordenadores de cursos e diretores de unidade.
A Reitoria tem ido a Brasília, pressionado o ministro da Educação, Camilo Santana, e buscado captar recursos por meio de editais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O diretor da FAU, Guilherme Lassance, pediu à comunidade acadêmica que aproveite os editais, o que considera “janelas de oportunidades”. O reitor reforçou a intenção de criar um Escritório de Projetos para expandir as maneiras de receber apoio financeiro. Entretanto, apesar da possibilidade livre de captação, a UFRJ só pode utilizar, no máximo, R$ 63 milhões em receitas próprias. “É um desestímulo para captação própria”, afirma Medronho.
Outra aposta da Reitoria é a venda de andares no Edifício Ventura. A proposta será levada ao Consuni e poderá trazer R$ 291 milhões para o caixa da Universidade. Como contrapartida, serão criadas salas de aula para o Centro de Ciências da Saúde (CCS), haverá melhor infraestrutura em Macaé, novos prédios serão construídos para a Escola de Música, os cursos da Dança e os Institutos de Matemática e Química. Além disso, serão finalizadas as obras dos prédios destinados a cursos do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) no Fundão.
*Sob supervisão do jornalista Sidney Rodrigues Coutinho