Um projeto da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli−UFRJ) buscará soluções para um problema que tende a se agravar nos próximos anos: a dificuldade de comunidades costeiras isoladas obterem alimento e água. A ideia do grupo de pesquisadores responsável pela iniciativa, liderado pelos professores de Engenharia Naval e Oceânica Claudio Rodríguez e Paulo de Tarso, é desenvolver uma plataforma offshore que utilize a energia oceânica e dessalinização da água para produzir água potável e alimentos.
De acordo com Rodríguez, o projeto “Estratégias de Resposta para sistema água−energia−alimento de comunidades costeiras sob mudanças climáticas: estudo de viabilidade de uma plataforma flutuante offshore multipropósito integrando dessalinização−energia oceânica−aquicultura” busca dar uma resposta sistemática e sustentável ao cenário desafiador causado pelas mudanças climáticas.
O projeto foi um dos contemplados pela 6ª Chamada Internacional Brics-STI, edital de fomento à pesquisa lançado em parceria entre a Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e órgãos de fomento da Rússia, Índia, China e África do Sul. A iniciativa é voltada para o desenvolvimento de pesquisas a respeito da adaptação e mitigação para o enfrentamento às mudanças climáticas.
“As mudanças climáticas vêm impondo períodos de estiagem ou alagamentos cada vez mais frequentes, que dificultam a obtenção de alimentos e o acesso a água, principalmente das comunidades pobres e mais afastadas. Em países com litorais extensos como Brasil, China e Índia, muitas dessas comunidades estão localizadas ao longo da costa com recursos oceânicos potenciais, mas que permanecem inexplorados devido à carência de estudos ou projetos de viabilidade técnica ou à sua pouca atratividade comercial”, explica o professor.
O trabalho será realizado em três etapas, sendo a primeira com foco na identificação de locais de interesse nos países envolvidos. Em sequência, haverá a avaliação do potencial energético das diferentes fontes de energia renovável oceânica (onda, vento ou sol) e determinação da mais adequada para cada local de operação.
Já na segunda etapa, o dispositivo de conversão de energia será especificado e a plataforma offshore será dimensionada junto com os sistemas de aquicultura e dessalinização, de acordo com os requerimentos e restrições de cada local. Nessa fase, com uso extensivo de ferramentas numéricas de simulação e otimização.
Na terceira será realizada a prova de conceito experimental/validação da plataforma multipropósito em escala reduzida, nos laboratórios oceânicos disponibilizados pelas instituições participantes. Para o professor Paulo de Tarso, o projeto representa uma oportunidade única de integração e complementação de conhecimentos nas áreas de energia renovável, engenharia naval e offshore e engenharia de processos (aquicultura, dessalinização).
“O grupo da UFRJ−Brasil tem grande experiência em projetos de pesquisa para o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras na área de plataformas flutuantes offshore, bem como em sistemas de extração de energia eólica e de ondas. Já o grupo da China tem forte atuação no desenvolvimento de sistemas para aquicultura e energia solar, e o grupo da Índia reúne pesquisadores com grande experiência na análise e instalação de dispositivos de extração de energia das ondas, estudos de otimização e viabilidade tecnoeconômica”, explica Tarso.
Além do desenvolvimento de estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas, haverá reflexos positivos no fortalecimento dos próprios grupos de pesquisa. “Espera-se que ao final do projeto as linhas de pesquisa dos grupos envolvidos se diversifiquem e continuem se estendendo para futuros projetos de cooperação e desenvolvimento científico”, desejou o pesquisador da Poli.
Com informações de Poli−UFRJ.