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Cerimônia concederá título de doutor honoris causa a Gilberto Gil

Evento, na próxima terça-feira, 10/12,  será transmitido online e reconhece as contribuições artísticas, culturais e políticas de um dos mais importantes e admirados artistas brasileiros de todos os tempos

Gilberto Passos Gil Moreira, conhecido mundialmente como Gilberto Gil, receberá na próxima terça-feira, dia 10/12, o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A cerimônia será às 18h no auditório Leopoldo Miguez da Escola de Música, localizada na Rua do Passeio, na Lapa, e terá transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da Universidade

Este reconhecimento, que partiu de uma iniciativa da Escola de Música e aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni) em fevereiro de 2024, destaca sua trajetória como um dos maiores artistas brasileiros, sua atuação como defensor da democracia e seu legado político-cultural no Brasil e no mundo.

Nascido em 26/6/1942, em Salvador, Bahia, Gil cresceu em um ambiente familiar marcado pela música, influenciado por gêneros como baião, samba e bossa nova. Sua relação com a música começou cedo, primeiro aprendendo sanfona e depois violão, instrumento que se tornou central em sua carreira. 

Ainda jovem, participou de festivais locais de música no final dos anos 1950, antes de se mudar para São Paulo no início dos anos 1960. Foi nessa época que ele viveu a efervescência da bossa nova e deu início a uma trajetória que culminaria no movimento Tropicalista, do qual foi cofundador, ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé.

Uma de suas apresentações mais marcantes foi no Festival de Música Popular Brasileira de 1967, com a canção Domingo no Parque, que incorporava elementos de música popular e experimental, apresentada com arranjo de Rogério Duprat e acompanhada pelo grupo Os Mutantes

Prisão e exílio

O Tropicalismo, marcado pela fusão de gêneros brasileiros e globais, como o rock, o pop e o reggae, provocou uma revolução cultural no Brasil ao desafiar os padrões musicais e políticos da época. A inovação estética, combinada ao uso de guitarras elétricas e à influência da contracultura, posicionou Gil e seus companheiros como alvos de censura tanto pelo regime militar quanto por setores da oposição. 

O exílio de Gilberto Gil foi uma consequência direta da repressão imposta pela ditadura civil-militar brasileira, especialmente após o Ato Institucional nº 5 (AI-5), decretado em dezembro de 1968. Em 27/12/1968, dias depois de apresentar a canção Questão de Ordem no III Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, foi preso – exatamente 14 dias após a decretação do AI-5, sob a acusação de “desrespeito a símbolos nacionais” durante apresentações artísticas.

“Se eu ficar em casa

Fico preparando

Palavras de ordem

Para os companheiros

Que esperam nas ruas

Pelo mundo inteiro

Em nome do amor”

Trecho da música Questão de Ordem

Por ter apresentado, no mesmo festival, a música É Proibido Proibir, Caetano Veloso também foi preso. Inicialmente, ambos foram mantidos em pequenas celas, em condições precárias e submetidos a interrogatórios. Após um período em prisão domiciliar em Salvador, foram obrigados ao exílio em julho de 1969. Londres foi escolhida como destino, onde Gil viveu até 1972. 

Durante o exílio, ele manteve sua criatividade, absorvendo influências culturais e filosóficas que marcaram sua música nos anos seguintes. Entre suas composições desse período, estão músicas em inglês e a famosa Back in Bahia, que reflete sua saudade do Brasil. Apesar das dificuldades, Gil reconheceu mais tarde que o exílio fortaleceu sua visão artística e política, consolidando-o como um ícone da resistência cultural e da luta pela liberdade.

De volta ao Brasil nos anos 1970, Gil lançou álbuns emblemáticos como Expresso 2222 (1972) e participou do icônico grupo Doces Bárbaros, ao lado de Caetano, Gal e Maria Bethânia, ampliando sua popularidade no país. Após uma temporada na Nigéria, aprofundou as influências afro em sua música, no também celebrado Refavela, de 1977. 

Arte de Gilberto Gil extrapolou fronteiras e influenciou artistas de várias partes do mundo | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Sua carreira musical inclui mais de 50 álbuns lançados, muitos deles premiados, como os que lhe renderam Grammys, Grammys Latinos e o Polar Music Prize, considerado por muitos como o “Nobel da música”. Em 2022, foi eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras, reafirmando seu impacto na cultura nacional.

Política

Além da música, Gil construiu uma destacada carreira política. Em 1987 e 1988, presidiu a Fundação Gregório de Mattos, em Salvador, onde atuou na formulação de políticas culturais. Entre 1989 e 1992, exerceu mandato de vereador na capital baiana. Mais tarde, entre 2003 e 2008, foi ministro da Cultura. Nesse período, implementou políticas inovadoras, como o programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura, que ampliaram o acesso à cultura e promoveram a diversidade cultural brasileira.

Sua atuação no ministério foi marcada pela articulação entre tecnologias digitais e patrimônio cultural, além de parcerias com universidades, incluindo a UFRJ. Em 2005, foi convidado pela Escola de Música da UFRJ para proferir a aula inaugural do ano letivo, um momento que reforçou sua ligação com a instituição.

Nos últimos anos, manteve-se ativo em sua produção artística. Apresentou-se na abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, lançou em 2018 seu premiado álbum Ok Ok Ok e prepara para 2025 sua última turnê. Batizada de Tempo Rei, terá apresentações em 10 cidades em todas as regiões do Brasil.

A homenagem da UFRJ celebra não apenas o impacto de sua música, mas também sua contribuição como líder cultural e político, comprometido com a valorização da diversidade e com a democratização da cultura. O título de doutor honoris causa reconhece sua trajetória singular, que continua a inspirar gerações no Brasil e no mundo.