Um público emocionado compareceu ao Salão Leopoldo Miguez, em um fim de tarde quente de quase verão, para homenagear um ícone da música brasileira, Gilberto Gil, que recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na noite de terça-feira, 10/12. Acompanhado da família e de amigos, o músico agradeceu a honraria, lembrando a importância do saber construído pela sociedade brasileira.
A iniciativa para a concessão do título a Gilberto Gil partiu da Escola de Música e foi aprovada tanto pela congregação da unidade quanto pelo conselho do Centro de Letras e Artes (CLA) e pelo Conselho Universitário (Consuni), onde a aprovação se deu por unanimidade e aclamação, o que reflete a admiração de todos os segmentos da comunidade universitária pelo músico baiano de 82 anos.
“Gilberto Gil é um mediador sensível entre esferas do saber que coabitam o cosmos, incitando o mundo sensível a um movimento infinito, em que se misturam, para o bem e para o mal, expectativas, sortilégios, infortúnios e paradoxos. Assim reconhecemos o papel desse artista superlativo”, destacou o professor de etnomusicologia da UFRJ Samuel Mello Araújo Júnior na saudação ao homenageado. “Sua música, muitas vezes, discorre sobre temas sociais e políticos, em sintonia com seu comportamento pessoal e sua militância em importantes momentos da história política brasileira”, lembrou o docente.
Ao conferir a honraria a Gil, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, defendeu o papel da Universidade na produção e difusão cultural. “Esta casa já ofereceu diversos títulos honoris causa: a prêmios Nobel, a grandes políticos e estadistas, bem como a compositores e poetas. A Charles de Gaulle, mas também a Carlos Drummond de Andrade e Augusto Boal, pois aqui fazemos ciência e também difundimos cultura. E não há desenvolvimento social pleno se não valorizarmos a cultura”, disse.
Na homenagem, o reitor lembrou o papel de líder desempenhado pelo músico. “Gilberto Gil é essa pessoa que nos inspira, que nos move, que traz a pulsão de vida, mostrando a importância da poesia, da música, da luta por um país mais justo, mais solidário, mais igualitário, mais saudável e mais sustentável”, afirmou Medronho, lembrando ainda a atuação política de Gil. “A sua trajetória como ministro da Cultura é uma marca indelével desse homem que sabe fazer a coisa certa, que sempre esteve do lado certo da História, mesmo sendo perseguido por isso”, completou.
A vice-reitora da UFRJ, Cássia Turci, destacou também da família construída por Gil, composta em grande parte por artistas e personalidades importantes para a cultura nacional, como suas filhas, Preta e Bela, e seu filho José e netos Francisco e João que compõem o trio Gilsons.
Também prestaram homenagens ao artista o decano do Centro de Letras e Artes (CLA), Afrânio Gonçalves Barbosa, que, criado no bairro do Realengo, no subúrbio do Rio de Janeiro, relembrou a relação afetiva da localidade com o músico, eternizada na canção Aquele Abraço, e o diretor da Escola de Música, Ronal Silveira, que destacou que passou a conhecer melhor o repertório de Gil em viagens de carro com a filha, demonstrando não apenas a capacidade gregária da música de Gilberto Gil, como sua capacidade de atravessar e afetar diferentes gerações de brasileiros.
Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata também homenagearam Gil, destacando seu papel como referência na luta política por um país mais justo e democrático e comparando o contexto dos anos 1960, quando o músico estreou nacionalmente, com os desafios e ameaças à democracia contemporânea.
Interpretaram canções do repertório de Gilberto Gil músicos da UFRJ de várias gerações: do projeto de extensão/musicalização infantojuvenil da Escola de Música, do projeto de Extensão TriloGils e do Grupo de Câmara da Orquestra Sinfônica da UFRJ, que completou 100 anos em 2024.
O homenageado
Em seu discurso, o agora doutor pela UFRJ Gilberto Gil lembrou o hábito que tem de reconhecer parceiros e companheiros criativos como doutores. “Este título, hoje a mim conferido por esta casa universitária de tão ampla e bem sucedida história e contribuição ao mundo do conhecimento e do saber, este título, hoje, ao assumi-lo, eu o tomo como assemelhado àquele tratamento dado a um amigo. Ali, eu um doutor em meio aos socráticos; hoje, eu doutor outorgado. Meu coração está pleno de agradecimentos à UFRJ”, afirmou.
Gilberto Gil, músico, compositor e ícone da cultura brasileira, possui uma trajetória marcada pela inovação artística e engajamento social. Natural de Salvador, Bahia, ele começou sua carreira na década de 1960, destacando-se como um dos fundadores do movimento tropicalista. Sua música une elementos de diversas tradições culturais, do samba ao rock, criando um som único e marcante.
Além da carreira artística, Gil teve uma atuação política significativa, primeiro como militante político perseguido e exilado, e posteriormente exercendo diversos cargos, entre eles o de ministro da Cultura (2003-2008), período em que promoveu políticas de democratização cultural. Sua obra recebeu amplo reconhecimento internacional, consolidando-o como uma das vozes mais influentes da música e da cultura global. Leia aqui um perfil de Gilberto Gil.