A Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FM/UFRJ) celebrou 216 anos de história em evento realizado no Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE), na na segunda-feira, 9/12. A cerimônia reuniu membros da comunidade acadêmica, ex-alunos e autoridades em uma comemoração marcada pelo reconhecimento da trajetória da mais antiga escola de Medicina em funcionamento do país e pela apresentação de novos desafios: o lançamento de uma campanha para arrecadação de fundos destinados à construção de uma sede própria para a faculdade.
Atualmente, a Faculdade de Medicina ocupa parte do edifício do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), ambos na Cidade Universitária. A iniciativa busca resgatar um projeto antigo, proporcionando um espaço exclusivo e funcional que atenda às necessidades acadêmicas e administrativas da unidade, além de oferecer melhores condições de aprendizado e pesquisa para estudantes e docentes.
“Tenho certeza que nada nos impedirá de cumprir nossa nobre missão de educar e ajudar, curar e acolher. Então, nesse sentido, eu queria que todos nós que fazemos parte da Faculdade de Medicina nos juntássemos nessa empreitada. Este é um compromisso que eu assumo: ajudar a organizar o processo para que esse projeto de construção da sede da Faculdade de Medicina seja bem sucedido”, afirmou o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, que se graduou na Faculdade de Medicina da UFRJ, onde é docente.
O ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão fez parte da última turma a ingressar na sede histórica da Faculdade de Medicina, na Urca, em 1972. “Eu entendo que estamos aqui iniciando um processo de luta e esperança para que a nossa faculdade recupere espaço e sua glória, e a nossa sociedade se sensibilize e apoie a UFRJ nesse processo de recuperação”, afirmou.
Representante dos servidores técnico-administrativos da UFRJ, Rosemeri dos Santos da Silva destacou como as limitações de espaço comprometem o bom funcionamento da faculdade. “A ausência de espaço adequado limita treinamentos e capacitações. A manutenção de equipamentos sensíveis é prejudicada pela falta de estrutura apropriada. A acessibilidade para pessoas com deficiência precisa ser urgentemente melhorada. Essas dificuldades afetam diretamente a nossa capacidade de oferecer suporte à excelência que caracteriza a Faculdade de Medicina”, afirmou.
História
Fundada em 1808 pelo então príncipe regente Dom João VI, durante a chegada da família real portuguesa ao Brasil, a Faculdade de Medicina da UFRJ é a segunda escola médica mais antiga do país. Meses antes, havia sido criada a Escola de Medicina da Bahia, atualmente vinculada à Universidade Federal da Bahia. No entanto, devido à localização na capital do reino, o curso carioca entrou em funcionamento antes de sua “irmã” baiana.
Inicialmente, a faculdade ocupava um edifício no Morro do Castelo, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, local onde a cidade foi fundada. Em 1856, foi transferida para a sede do antigo Recolhimento de Órfãos, próximo à Santa Casa, onde permaneceu até 1918, quando conquistou sua sede própria, localizada na Urca.
No entanto, a história dessas sedes foi marcada por transformações urbanísticas. Com a reforma promovida pelo então prefeito Carlos Sampaio, entre 1920 e 1922, o Morro do Castelo foi demolido para dar lugar à atual Avenida Presidente Vargas, resultando na destruição das duas primeiras sedes da escola.
O prédio da Urca, inaugurado em 1918, tornou-se um marco para a instituição e um símbolo de orgulho para a sociedade da época. Nele, figuras proeminentes da ciência brasileira, como Carlos Chagas, ministraram aulas. Contudo, sua história seria interrompida de forma trágica.
Em 1966, durante a ditadura civil-militar, a faculdade foi palco de um episódio violento. Estudantes protestavam contra a cobrança de anuidades nas universidades públicas e o regime autoritário, quando os militares invadiram o prédio, em uma ação que resultou em 600 feridos. Esse episódio, conhecido como “Massacre da Praia Vermelha”, teve ampla repercussão, mesmo em um período de censura à imprensa, e expôs a brutalidade do regime.
O massacre marcou profundamente a trajetória da faculdade. A unidade foi transferida para o campus da Ilha do Fundão, onde passou a integrar o recém-inaugurado Centro de Ciências da Saúde (CCS), permanecendo ali até hoje. Leia mais sobre o Massacre da Praia Vermelha no portal dos 100 Anos da UFRJ.
O prédio histórico da Urca foi repassado à Eletrobrás e demolido em 1975, encerrando de vez o ciclo de sua existência. Poucos itens do mobiliário e da estrutura original foram preservados e, mais uma vez, a sede de uma das mais antigas escolas médicas do Brasil desapareceu, levando consigo parte significativa de sua história.