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Direto da Reitoria

Cerimônia oficial marca chegada do Manto Tupinambá ao Museu Nacional da UFRJ

Feito de penas vermelhas de Guará, artefato estava desde 1644 em museu da Dinamarca

No dia 12/9, uma cerimônia realizada na Quinta da Boa Vista celebrou o retorno ao Brasil do Manto sagrado Tupinambá, artefato de valor artístico, histórico e espiritual que havia passado mais de 300 anos em um museu europeu. Agora, sob a proteção do Museu Nacional, unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Manto torna-se um símbolo de uma nova etapa na reconstrução do Museu e na história do Brasil.

A celebração teve a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e de uma comitiva de cerca de 170 representantes indígenas da região baiana de Olivença, além de autoridades culturais e educacionais. O reitor da UFRJ, Roberto Medronho, e a diretora substituta do Museu Nacional, Andrea da Costa, representaram a Universidade.

A celebração incluiu cantos e danças tradicionais dos povos indígenas, reforçando o caráter espiritual do artefato. Para o povo Tupinambá, o Manto carrega uma importância ancestral e cultural, e sua repatriação é considerada uma “restituição histórica”, vista como um passo significativo no reconhecimento de seus direitos sobre o patrimônio indígena. Além do Manto, o governo brasileiro está em negociação para repatriar outros artefatos de museus internacionais. 

O presidente Luís Inácio Lula da Silva, que esteve na Universidade para participar da cerimônia, destacou a importância do retorno do Manto para a história do país. “É um privilégio extraordinário participar como presidente da República deste momento tão especial não só para os povos indígenas, mas para a história de todos nós, brasileiros e brasileiras”, afirmou.

“Ao longo de nossa história, diversos itens indígenas e de outras comunidades tradicionais atravessaram fronteiras e foram habitar museus europeus e de outros pontos do mundo. Além de sua extraordinária relevância cultural, são objetos que guardam crença, memória e tradições. O retorno do Manto sagrado Tupinambá, até então parte do Museu Nacional da Dinamarca, é um marco e o começo de uma nova história do ponto de vista dos povos indígenas. Trata-se do primeiro item de simbolismo espiritual a voltar ao país depois de tantos anos ausente”, completou o presidente Lula.

Valor Espiritual

O Manto Tupinambá, com cerca de 1,8 m de altura e feito de penas vermelhas de guará, é uma peça sagrada para o povo Tupinambá, que o considera não um objeto, mas uma entidade viva e ancestral. “Nós estamos no Rio de Janeiro desde janeiro, em vigília, para que a gente dissesse ao Manto: “Nós estamos aqui, estamos pertinho de você, ajude-nos mais ainda! Viva mais 300 anos! Viva mais um tempo, para que o Brasil seja um novo Brasil, um Brasil com uma história verdadeira, a história dos povos originários!”, discursou emocionada a cacica Jamopoty, líder do povo Tupinambá de Olivença.

Durante a ocupação holandesa no Nordeste, no século XVII, o Manto foi retirado do povo, que vive no Sul da Bahia, e levado para a Europa. Desde 1644 ele estava na Dinamarca, como parte do acervo do museu nacional daquele país. Em 2000, durante as comemorações dos 500 anos do Brasil, o Manto retornou temporariamente ao país, para a “Mostra do Redescobrimento”, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Na ocasião, a anciã Nivalda Amaral, do povo Tupinambá de Olivença, reconheceu a peça como parte de sua herança ancestral e desde então lideranças indígenas se mobilizam para sua repatriação.

O retorno do Manto é resultado de um acordo entre o Brasil e a Dinamarca, articulado pelos ministérios das Relações Exteriores, da Cultura e dos Povos Indígenas, com a participação de lideranças Tupinambá. O Museu Nacional, vinculado à UFRJ, desempenhou papel central nesse processo. Desde o incêndio de 2018, que destruiu boa parte do acervo do museu, a Universidade tem trabalhado na reconstrução do edifício e na restauração das coleções. 

Roberto Medronho destacou o papel fundamental da Universidade em mais este momento-chave da história do Brasil. “Desde o pré-sal até a repatriação deste maravilhoso Manto, a UFRJ teve papel fundamental para o desenvolvimento do país. A ciência voltou, o Brasil voltou, e nós estamos na linha de frente dessa reconstrução”, disse.

A devolução do Manto simboliza também a renovação das iniciativas de preservação cultural e científica da instituição, integrando-se aos esforços contínuos de reerguer o primeiro museu do Brasil. “Um museu universitário do século XXI, como o Museu Nacional, precisa estar comprometido, junto com as instituições de Estado, na salvaguarda do patrimônio material e imaterial do país, assim como nos processos educacionais, culturais e políticos para a construção de um país soberano e mais justo”, afirmou Andrea da Costa.

O Manto Tupinambá agora ficará aos cuidados do Museu Nacional, que está sendo reformado e restaurado, com previsão de reabertura para 2027. Ele é mantido sob condições especiais de preservação, garantindo que futuras gerações possam apreciá-lo e entender seu valor histórico e cultural.