A Associação Brasileira de Geólogos do Petróleo (ABGP) e a Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) emitiram notas sobre a ação da Polícia Federal (PF) ocorrida no dia 22/10, quando fez incursão no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) da UFRJ para procedimento de mandado acerca da suspeita de um professor estar envolvido com contrabando de fósseis. Na ocasião, a Reitoria da UFRJ e a decania do CCMN se manifestaram.
A ABGP afirmou reconhecer “a idoneidade e competência dos professores da UFRJ em realizar as pesquisas que foram e vem sendo desenvolvidas na Bacia do Araripe”.
“Além disso, em 2011, a Faculdade de Geologia do Instituto de Geociências/UFRJ, numa visão holística, iniciou a construção da “Casa da Pedra” em Santana do Cariri (CE) para abrigar estudantes e pesquisadores que se dedicam a vários tópicos relacionados às Ciências que envolvem a Bacia do Araripe no nordeste brasileiro”, destacou a ABGP.
A Febrageo repudiou a incursão da PF no campus universitário. “A Federação Brasileira de Geólogos – Febrageo, acompanha apreensiva a notícia da ação da Polícia Federal realizada no Departamento de Geologia, do Instituto de Geociências, da UFRJ (DG/IG/UFRJ) e apresenta sua total indignação como a ação foi realizada e divulgada, desprezando a história da Instituição, de seus docentes, pesquisadores e funcionários em prol da proteção, valorização, conservação e pesquisa do patrimônio geológico nacional”, afirmou a Federação.
Leia as notas na íntegra:
ABGP:
Pela presente nota, a Associação Brasileira de Geólogos de Petróleo (ABGP), vem a público manifestar-se sobre a notícia veiculada, na imprensa, com relação ao contrabando de fósseis da Bacia do Araripe.
A ABGP reconhece a idoneidade e competência dos professores da UFRJ em realizar as pesquisas que foram e vem sendo desenvolvidas na Bacia do Araripe. Além disso, em 2011, a Faculdade de Geologia do Instituto de Geociências/UFRJ, numa visão holística, iniciou a construção da “Casa da Pedra” em Santana do Cariri (CE) para abrigar estudantes e pesquisadores que se dedicam a vários tópicos relacionados às Ciências que envolvem a Bacia do Araripe no nordeste brasileiro.
ABGP e Faculdade de Geologia são parceiras de longa data, no que se refere à difusão do ensino das geociências.
O engano já foi esclarecido e precisa ser amplamente divulgado. Aproveitamos para convidar a todos para conhecerem mais deste projeto fantástico no nosso site: https://abgp.com.br/abgp-de-olho-no-amanha-a-casa-da-pedra/.
Atenciosamente,
Marcos do Amaral de Almeida
Presidente da ABGP
Febrageo:
NOTA DE REPÚDIO A AÇÃO ARBITRÁRIA NA UFRJ
A Federação Brasileira de Geólogos – FEBRAGEO, acompanha apreensiva a notícia da ação da Polícia Federal realizada no Departamento de Geologia, do Instituto de Geociências, da UFRJ (DG/IG/UFRJ) e apresenta sua total indignação como a ação foi realizada e divulgada, desprezando a história da Instituição, de seus docentes, pesquisadores e funcionários em prol da proteção, valorização, conservação e pesquisa do patrimônio geológico nacional.
A FEBRAGEO apoia o combate ao comércio ilegal de fósseis, não só por questões legais, mas por considerar este valioso patrimônio natural como um instrumento instigador da curiosidade e interesse da sociedade pela Ciência. Tal patrimônio é essencial para avanço do conhecimento sobre os processos da evolução de nosso planeta e indissociável do desafio da sustentabilidade econômica, social e ambiental. Por isto, há que se coibir o tráfico destes valiosos restos de animais, plantas ou vestígios de seres vivos preservados nas rochas, recuperar e mantê-los em nosso país, em museus e exposições, e estimular a pesquisa do acervo de fósseis brasileiros. Ademais, tal patrimônio tem o potencial de expandir, no Brasil, o setor do turismo científico, ainda pouco explorado frente a enorme geodiversidade de um país continental.
A tarefa de estruturar estes acervos em nossas instituições científicas recai sobre os ombros de especialistas, que devem ser valorizados e apoiados na organização acadêmica, que é baseada no trinômio ensino, pesquisa e extensão. No DG/IG/UFRJ está um dos melhores exemplos de como a preservação do patrimônio fossilífero do país pode ser útil à sociedade. Visando a boa formação dos geólogos brasileiros, a instituição promove, há mais de uma década, atividades de campo na Bacia Sedimentar do Araripe, uma das melhores escolas a céu aberto que se tem no mundo. Vários docentes e estudantes de graduação e pós-graduação da UFRJ desenvolvem pesquisas científicas com fósseis desta bacia, que vêm agregando valiosas contribuições científicas reconhecidas nacional e internacionalmente. Como não poderia deixar de ser, fazem este trabalho com observância plena à legislação e com autorização da Agência Nacional de Mineração, órgão competente a autorizar a coleta, transporte e registro dos espécimes fósseis no Brasil. Todo este material é tratado por especialistas, registrado em livro de tombo, divulgado e colocado à disposição para pesquisa na coleção, que é armazenada em ambiente adequado e apropriado a este fim.
A atividade do DG/IG/UFRJ notabiliza-se também pela preocupação em valorizar e estimular os valores culturais, sociais e econômicos daquela região nordestina, apoiando e difundindo as iniciativas para a preservação da geodiversidade da Chapada do Araripe. Prova inconteste desta ação, é que construiu no município do Santana do Cariri, no Ceará, uma unidade avançada da UFRJ – a Casa da Pedra – que recepciona alunos de várias universidades do país que estejam interessados em desenvolver pesquisa e/ou treinamento na Chapada. Seu prédio, em concepção inovadora, valoriza o uso da “pedra do Cariri” e a geodiversidade local. A Casa de Pedra passou a ser um centro de estímulo à cultura local, tornando-se um excelente ambiente para que muitos universitários brasileiros conheçam e valorizem a região nordeste brasileira em toda a sua extensão.
A FEBRAGEO entende que o eventual combate a desvios legais deve ser conduzido com o devido cuidado, dando ampla chance de defesa a eventuais suspeitos e afastando ações espetaculosas que sirvam a interesses midiáticos. A exposição da informação colhida de forma açodada, não raro causa estragos injustos à imagem das pessoas e instituições, execrações públicas, com prejuízos à sociedade e ao Estado de Direito. O exemplo mais grotesco de arbitrariedades desta natureza foi a prisão do Reitor Luiz Carlos Cancellier, da UFSC, com um desfecho trágico antecedendo à constatação de sua inocência.
O bem sucedido esforço desenvolvido pela área de Paleontologia da UFRJ para a educação geocientífica brasileira é amplamente reconhecido pela comunidade de geólogos brasileiros. Esta é a razão da insuspeição da FEBRAGEO quanto à má-fé de qualquer de seus docentes. Os manifestos dos seus pares e o da UFRJ asseguram a correção deste juízo de valor. Reforçam, também, a necessidade de que a denúncia contra qualquer membro desta Instituição seja conduzida com a devida habilidade, sabendo-se separar práticas ilegais das ações de natureza científicas, que somente visam o avanço do conhecimento e o aprimoramento educativo da sociedade de nosso país.
A FEBRAGEO espera que a Polícia Federal investigue também as razões e intenções por trás dessas denúncias contra universidades públicas brasileiras. Ressalta-se que há de se respeitar as instituições de ensino históricas, os seus docentes e funcionários que tanto produzem e contribuem para educação, inovação e ciência do país.
Atenciosamente,
Diretoria da FEBRAGEO