Reitoria itinerante

Para dar início ao projeto Reitoria Itinerante, a cúpula da gestão da UFRJ escolheu, na última terça-feira (24/10), o histórico prédio erguido no século XVIII, onde atualmente está o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e o Instituto de História (Ifcs-IH), no Largo de São Francisco, Centro do Rio de Janeiro. O lugar carrega o pioneirismo na formação superior no Brasil, pois lá se instalou a Escola Politécnica, um dos pilares da criação da Universidade no século XX. Hoje, todavia, a estrutura tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) sofre com diversos problemas para abrigar os professores, os servidores técnicos e os mais de cinco mil estudantes dos cursos de História, Filosofia e Ciências Sociais nas salas de aula e corredores.

Ao lado dos pró-reitores da Universidade, o reitor, Roberto Medronho, iniciou as atividades destacando as restrições orçamentárias que estrangulam a educação pública superior ano a ano. O ano de 2023, por exemplo, a UFRJ fechará com uma dívida de 120 milhões de reais, que se arrastará para a gestão em 2024. A ideia de estreitar a comunicação e buscar soluções conjuntas acabou se tornando uma grande reunião. Nela, de um lado, estavam os pró-reitores e outros gestores administrativos esclarecendo os motivos pelos quais as soluções para o prédio demoram a acontecer. Do outro, o diretor do Ifcs, Fernando Santoro, e o diretor do Instituto de História (IH), Antônio Carlos Jucá, elencando as dificuldades da administração, como a necessidade de recuperar com urgência a parte elétrica da edificação e evitar a ocorrência de sinistros.

De acordo com o reitor, um grande esforço está sendo realizado para manter a UFRJ com as portas abertas até o fim do período letivo. “O orçamento deste ano foi aprovado no governo anterior (ao do presidente Lula) e não há como mudar isso. Estamos em débito com os fornecedores de energia, de água e poderemos ficar devedores de outros serviços essenciais. Mas tomamos a decisão de manter a Universidade aberta, acolhendo os alunos e realizando pesquisas. Não há recursos no MEC e nós, a despeito do empenho em resolver, estamos com problemas. Precisamos ter rotinas muito claras e objetivas para agilizar os processos burocráticos, agilizar o trâmite e dar respostas”, afirmou.

Os problemas orçamentários não são os únicos. Mudanças na legislação federal específica para realização de licitações, quadro de servidores públicos reduzido e, no caso do Ifcs-IH, restrições arquitetônicas, por se tratar de um patrimônio público tombado, impedem que decisões que parecem simples sejam tomadas. Segundo a arquiteta Adriana Mendes, que representou o Iphan no encontro, o projeto de recuperação da parte elétrica ainda deve levar um tempo para ser autorizado. “Qualquer obra em bem tombado precisa de um projeto executivo aprovado no Iphan. Isso ocorre em duas etapas, pela dimensão do edifício. Primeiro, se aprova o projeto básico ou anteprojeto, o que ocorreu para a parte elétrica e prevenção de incêndio. Mas ainda são necessárias informações para a aprovação final, com a análise da compatibilização dos elementos que serão incorporados à arquitetura do prédio”, informou ela.

O diretor do Escritório Técnico Universitário (ETU), Roberto Machado Corrêa, informou que uma vistoria da estrutura do Ifcs-IH foi realizada na segunda-feira (23/10) e que a preocupação é com a preservação da integridade física e a vida das pessoas. Caso seja necessária a interdição de um espaço ou outro, isso será realizado. Servidores da Prefeitura Universitária (PU) iniciaram a inspeção dos condicionadores de ar e circuitos elétricos para verificar quais poderiam funcionar em segurança e ventiladores foram fornecidos para atenuar o calor nas salas de aula.

Encontro produtivo

Na opinião do professor Fernando Santoro, a Universidade entendeu que o prédio mais antigo da instituição é um lugar prioritário para conservação, não apenas do patrimônio tombado, mas sobretudo da vida das pessoas que desenvolvem trabalhos nos institutos. “Tivemos a oportunidade de tocar em assuntos que são relevantes para o IH e o Ifcs. A meta de manter a UFRJ aberta até o fim do ano guiou as discussões. Todos trouxeram as questões que são urgentes e necessárias para evitar a interrupção das atividades acadêmicas. Destacamos a necessidade de se evitar o atraso de pagamentos de terceirizados de limpeza, segurança e bombeiros civis, como ocorreu no passado. Enfatizamos a situação da parte elétrica do prédio, mas também a necessidade de reformas com ações emergenciais”, explicou o diretor do Ifcs.

Santoro também disse que a presença de representantes do ETU e da PU, com equipes no prédio, foi importante para verificar em cada uma das salas os aparelhos possíveis de serem ligados com segurança. “Outro exemplo foi agilizar a compra de materiais para a sinalização e prevenção de incêndio. Creio que a reunião foi muito produtiva com a presença de estudantes, docentes e outros que aqui trabalham”.

Do ponto de vista do reitor, a experiência da Reitoria Itinerante teve êxito por ter sido uma interação direta com o IH e o Ifcs. “Saímos com a sensação de que precisamos avançar e somente a união entre as unidades, decanias e a Reitoria poderá fazer frente aos graves problemas que temos hoje na UFRJ. A presença do Iphan foi importante para agilizar os processos e nosso interesse é agilizar e destravar as pendências. Algumas sem dúvida precisam de suplementação orçamentária, mas outras podem ser resolvidas em um diálogo franco e fraterno como ocorreu”.

Roberto Medronho enfatizou que a PU e o ETU já começaram a atuar. E concluiu: “estamos preparando processos e procedimentos para que, tão logo cheguem as verbas, possamos resolver os problemas do fabuloso e histórico prédio. De qualquer maneira, acima das questões patrimoniais, a preocupação é com a segurança e a vida do corpo social dos institutos, daqueles que lá estudam, pesquisam e trabalham”.

Universidade do futuro

Com o objetivo de se tornar referência em sustentabilidade entre as universidades brasileiras, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deu o primeiro passo para reunir em um só lugar todas as iniciativas voltadas para a área, tanto aquelas já em curso quanto as que ainda são apenas projetos. Em reunião preliminar ocorrida no prédio da Reitoria na última sexta-feira (20/10), foi formada uma comissão que vai elaborar documentos e diretrizes de trabalho que serão apresentados ao Conselho Universitário para a construção da Política de Sustentabilidade da Universidade.

De acordo com o reitor, Roberto Medronho, que presidiu o encontro com participação dos principais atores de iniciativas já desenvolvidas na instituição, a meta é formar nos campi espaços de experiências que respondam a demandas cada vez mais urgentes da sociedade em relação à produção de energia, consumo de água, saneamento, reaproveitamento de resíduos, entre outros. “Temos muitas áreas de conhecimento que podem atuar em três eixos. O primeiro, voltado a deixar a UFRJ mais atuante na geração da própria energia e água, insumos que consomem a maior parte do orçamento. O segundo, voltado para a educação do corpo social, tornando-o cada vez mais consciente em relação ao uso dos recursos naturais. Por fim, o terceiro, para integrar as ações voltadas para o desenvolvimento sustentável”, afirmou. Os três eixos permitem criar sinergias entre as diferentes dimensões de sustentabilidade, possibilitando o diálogo com artes, cultura, ciência, tecnologia e ancestralidades.

A professora Laísa Freire, do departamento de Ecologia do Instituto de Biologia (IB), apresentou aos participantes da reunião a síntese das propostas discutidas ainda no período de transição entre a gestão passada e a atual. Em curto prazo, segundo ela, é necessário dar continuidade ao Plano de Logística Sustentável (PLS), por exemplo, além de aumentar o controle para que as compras de materiais usados no cotidiano pela instituição sejam sustentáveis. A proposta é ainda mais ambiciosa a médio e a longo prazos. O objetivo é ter cursos de capacitação de servidores e inovações nos currículos na graduação e na pós que envolvam a territorialização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A atual coordenadora do PLS, a professora Bettina Susanne Hoffmann, da Escola de Química, observou que o Plano é um centralizador de gestão que pode unir as iniciativas por áreas temáticas. A iniciativa visa à realização de diagnósticos, estabelecimento de metas e planos de ação. É necessário, de acordo com ela, que as pró-reitorias de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3) e de Gestão e Governança (PR-6) sejam mais atuantes para ajudar a definir o financiamento para as ações. “É preciso ainda uma reestruturação da equipe do PLS, com o ingresso de novos quadros com  responsabilidades definidas. Precisamos nos adaptar às novas diretrizes do governo federal e vejo o Plano como uma ferramenta para nortear as ações de sustentabilidade”, destacou Susanne Hoffmann.

O professor Francisco Esteves, do Nupem/CCS, vai coordenar a equipe voltada a evidenciar as iniciativas sustentáveis da UFRJ. Para ele, nas unidades existem diversos grupos  voltados para oferecer à sociedade soluções inovadoras e ferramentas de gestão destinadas a ampliar a qualidade de vida com o uso consciente dos recursos naturais. “Há pessoas voltadas para desenvolver o PLS; outras, com ações para levar à frente os ODS; e há ainda aqueles que atuam com destinação de resíduos. A meta é integrar todos eles”, afirmou.

A professora Andrea Borde, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que participou da elaboração do Plano Diretor da UFRJ para 2030, acredita que a formação de um novo núcleo vai dar visibilidade às ações que estão dispersas. Além dela, do professor Esteves e das professoras Freire e Susanne Hoffmann, integram a comissão preliminar os professores Marcos Freitas (Coppe), Marcelo Cortes (Colégio de Aplicação), Guto Nóbrega (FAU) e Thiago Gomes (Instituto Politécnico/CM-Macaé). O e-mail sustentabilidade@reitoria.ufrj.br está disponível para acolher novas adesões.

Calor atípico

Um estudo conduzido por 12 cientistas de universidades e agências meteorológicas do Brasil, da Holanda, do Reino Unido e dos Estados Unidos alerta que o calor recente na América do Sul tem mais relação com as mudanças climáticas causadas pelo homem do que pelo  El Niño. Os pesquisadores integram colaboração internacional que analisa e comunica as possíveis influências em eventos climáticos extremos, tais como tempestades, chuvas fortes, ondas de calor e secas: a World Weather Attribution. Segundo eles, o calor extremo observado em setembro chega a ser 100 vezes mais provável de ocorrer, apresentando anomalias de 1,4  a 4,3 graus Celsius a mais, do que se não houvesse essas mudanças climáticas.

Grandes regiões da América do Sul foram afetadas por um incomum calor em agosto e setembro. Apesar de serem os primeiros dias da primavera, as temperaturas ultrapassaram os 40 graus no Brasil, Bolívia, Argentina e Paraguai, afetando milhões de pessoas, inclusive com mortes relacionadas. O calor prolongado veio depois de muitos países sul-americanos experimentarem o inverno mais quente já registrado.

Para quantificar o efeito das mudanças climáticas nas altas temperaturas sustentadas na América do Sul, os cientistas, seguindo métodos revisados por pares, analisaram dados e simulações de modelos para comparar o clima do passado com o atual, após cerca de 1,2 grau de aquecimento global desde o fim dos anos 1800. A análise também considerou o efeito do El Niño, fenômeno natural que leva a temperaturas mais altas na América do Sul e em outras partes do mundo e que está afetando a região neste ano.

Os cientistas descobriram que tais episódios de calor extremo na América do Sul, fora dos meses de verão, são muito improváveis sem as alterações climáticas causadas pelo homem. “É preocupante que temperaturas acima de 40 graus na primavera estejam se tornando comuns em muitas partes do mundo. É a realidade do nosso clima em rápido aquecimento. Agora estamos enfrentando dias cada vez mais perigosamente quentes a cada ano”, disse Izidine Pinto, pesquisadora do Instituto Meteorológico Real, da Holanda. 

Pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, são autores do estudo a professora Renata Libonati e o pesquisador Djacinto Santos, ambos do Instituto de Geociências (IG). Segundo Libonati, as ondas de calor ainda são um desastre negligenciado, pois não existem protocolos de enfrentamento como no caso de enchentes e deslizamentos, por exemplo. Segundo ela, o país está atrasado no desenvolvimento de estratégias de prevenção e mitigação desses eventos de calor, que têm impacto significativo na saúde pública, principalmente em grupos vulneraveis”, afirmou.

Hoje, as temperaturas quentes muito incomuns no início da primavera podem ser esperadas aproximadamente uma vez a cada 30 anos na região. “Embora muitas pessoas tenham apontado o El Niño para explicar a onda de calor na América do Sul, essa análise mostrou que as mudanças climáticas são o principal fator do calor. Queremos ser claros: um El Niño em desenvolvimento teria contribuído com algum calor, mas, sem as alterações climáticas, um calor primaveril tão intenso teria sido extremamente improvável”, alertou Lincoln Muniz Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Queda livre

Todos os objetos, independentemente da massa ou da composição, devem cair em queda livre da mesma maneira em resposta à gravidade, segundo o princípio da equivalência fraca (WEP, na sigla em inglês), descrito por Albert Einstein, em 1915 –  quando ele apresentou ao mundo os efeitos da gravidade na Teoria Geral da Relatividade. Todavia, as experiências consideravam apenas tudo que fosse feito de matéria. Até que um grupo de pesquisadores da UFRJ, junto com outros cientistas de diversas partes do mundo, resolveram testar os efeitos da gravidade na antimatéria. Os resultados estão descritos hoje na Nature, uma das mais conceituadas publicações científicas. Eles revelaram que os átomos de antimatéria caem na Terra da mesma forma que os seus equivalentes feitos de matéria.

A antimatéria é o inverso da matéria e, quando elas se encontram, se aniquilam e liberam luz. Embora o físico alemão Arthur Schuster tenha sugerido a existência da antimatéria, em 1880, apenas em 1928 Paul Dirac postulou, somente com cálculos e sem nenhuma evidência experimental, que de fato havia elementos de antimatéria no Universo. Mesmo assim, só quatro anos depois, Carl David Anderson pôde observar a existência do pósitron, a partícula que comprovou as ideias anteriores. Para melhor compreensão, o átomo de hidrogênio feito de matéria, por exemplo, tem apenas um próton de carga positiva e um elétron de carga negativa. Já o anti-hidrogênio tem a mesma composição, mas com as cargas invertidas.

Como afirmou Jeffrey Hangst, porta-voz da colaboração Alpha, da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), da Suíça:“Na física, realmente não se sabe algo até você observar. Este é o primeiro experimento direto no qual realmente se pôde observar um efeito gravitacional no movimento da antimatéria. É um marco no estudo da antimatéria, que ainda nos confunde devido à sua aparente ausência no Universo”. É importante ressaltar que a antimatéria, segundo a teoria e os experimentos científicos, só é criada artificialmente na Terra. Os cientistas sabem que após o Big Bang, matéria e antimatéria se formaram em quantidades quase iguais. E, apesar de muitas hipóteses, nenhuma comprovada, ninguém sabe onde a antimatéria foi parar. Houve, por algum motivo desconhecido, a separação entre as duas ou não existiríamos. 

A colaboração Alpha cria átomos de anti-hidrogénio – um pósitron orbitando um antipróton – na Fábrica de Antimatéria do Cern. Lá, cientistas pegam antiprótons com carga negativa, produzidos e desacelerados nas máquinas AD e Elena, e os ligam a pósitrons carregados positivamente acumulados a partir de uma fonte de sódio-22. Em seguida, confinam os átomos de antimatéria neutros – mas ligeiramente magnéticos – em uma armadilha magnética, que os impede de entrarem em contato com a matéria e se aniquilarem. Os átomos de anti-hidrogênio são partículas de antimatéria eletricamente neutras e estáveis. Essas propriedades os tornam sistemas ideais para estudar o comportamento gravitacional da antimatéria.

Testes rigorosos

De acordo com o professor do Instituto de Física (IF) da UFRJ Rodrigo Sacramento, um dos autores do artigo, a experiência pode parecer simples assim como os resultados, mas foram anos para aprender como fazer esse antiátomo, como segurá-lo e como controlá-lo bem o suficiente para que pudéssemos realmente soltá-lo de uma forma que fosse sensível à força da gravidade. O estudo completo envolveu a repetição do experimento várias vezes para diferentes valores de um campo magnético adicional, que poderia (des)compensar ou até mesmo neutralizar a força da gravidade. “Fomos muito rigorosos ao realizar os experimentos e esse foi um artigo que discutimos bastante antes de divulgar, cientes de nossa responsabilidade”, explicou.

A equipe Alpha construiu um aparelho vertical chamado Alpha-g, que recebeu seus primeiros antiprótons em 2018 e foi comissionado em 2021. O “g” denota a aceleração local da gravidade, que, para a matéria, é de cerca de 9,81 metros por segundo ao quadrado. Este aparelho permite medir as posições verticais em que os átomos de anti-hidrogênio se aniquilam com a matéria quando o campo magnético da armadilha é desligado, permitindo a fuga deles.

Segundo o professor Cláudio Lenz, também do IF/UFRJ, as descobertas realizadas confirmaram que a antimatéria deveria sentir os efeitos da gravidade da mesma forma que a matéria comum, de acordo com as previsões da relatividade geral. O próximo passo dos cientistas, adiantou ele, é realizar testes mais precisos no futuro para melhorar a compreensão da natureza gravitacional da antimatéria. Um futuro interferômetro a laser permitiria um aumento de precisão de ordens de grandeza e testar se a matéria e a antimatéria realmente caem da mesma maneira, tal como a pena e a maçã lançadas no vácuo. “Em última análise, a ciência é empírica e nossos modelos atuais ainda estão longe de explicar nosso Universo, tendo em vista a ausência de antimatéria, a essência da matéria e da energia escura”, disse o professor.

O Brasil está para virar membro do Cern, dependendo agora só da aprovação no Congresso Nacional e de a decisão ser sancionada pelo presidente da República. Embora partes do experimento Alpha tenham sido feitas no Brasil, essas pesquisas com anti-hidrogênio só podem ser feitas na organização europeia. A assinatura do acordo vai permitir aos grupos brasileiros que atuarem no Cern assumirem maiores compromissos e protagonismo nas futuras pesquisas fundamentais. Hoje, a equipe brasileira é composta por Levi Oliveira Azevedo, Rodrigo Lage Sacramento, Álvaro Nunes de Oliveira, Cláudio Lenz Cesar e Daniel de Miranda Silveira.

O grupo brasileiro no Alpha, baseado na UFRJ e no Inmetro, tem sido apoiado pelo CNPq, Renafae e Faperj. Atualmente, o grupo está desenvolvendo uma técnica de geração de íons frios negativos de hidrogênio (https://www.nature.com/articles/s42005-023-01228-7) para introduzir hidrogênio na mesma armadilha do anti-hidrogênio e assim poder realizar uma comparação direta entre o átomo e o antiátomo. 

Encontro de reitores latino-americanos e caribenhos levou propostas ao papa Francisco

Para discutir temas relacionados aos grandes desafios do mundo na atualidade, a exemplo de mudanças climáticas, crise hídrica e biodiversidade, desemprego e migração, tecnologia e tecnocracia, representantes de universidades latino-americanas e caribenhas estiveram reunidos nesta semana, em Roma, na Itália. A delegação brasileira foi formada por reitores de 41 universidades, entre eles, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho.

Os temas tratados no encontro são baseados nas encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti, escritas pelo pontífice em 2015 e 2020, respectivamente. A Laudato si’ aborda os problemas ambientais que ocorrem na Terra (a casa comum) e propõe um paradigma de mudança para questões críticas, como as ambientais e as sociais. Já a outra encíclica dá continuidade à primeira e faz um chamamento para que a humanidade redescubra sua fraternidade universal e trabalhe em um projeto de desenvolvimento que promova a dignidade humana.

Durante o encontro, os reitores foram agrupados em equipes de trabalho, cada uma composta por três oradores. Em audiência com o papa Francisco, os dirigentes apresentaram quatro propostas de diálogo acadêmico regional , elaboradas ao longo das etapas anteriores do “Encontro entre Reitores de Universidades Latino-Americanas e Caribenhas: Organizando a Esperança”. Na ocasião, os reitores e reitoras puderam fazer perguntas ao líder da Igreja Católica. 

Segundo Roberto Medronho, o líder religioso respondeu a cada uma das questões e recebeu uma carta assinada por todos os reitores. O papa Francisco fez um apelo para que as instituições de ensino superior conversem com a juventude.

Para Francisco, os jovens têm direito a um cosmos equilibrado, e, por isso, ele fez críticas à cultura do consumo, às toneladas de plástico deixadas no mar e a todas as formas de degradação ambiental. O pontífice demonstrou grande preocupação com o extrativismo como uma das formas de agressão ao meio ambiente e geração de doenças. O evento foi promovido pela Red Universitaria para el Cuidado de la Casa Común (RUC).

Produção de vieiras em queda no Sudeste devido a vilões ambientais

O aquecimento global e a poluição das águas podem estar por trás da queda na produção da promissora cultura de moluscos na Baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Com isso, o estado fluminense sofre mais  um baque na economia em uma atividade socioeconômica global de relevância. A geração de vieiras (Nodipecten nodosus) para maricultura caiu de 51,2 toneladas em 2016 para 10,2 toneladas em 2022, de acordo com estudo publicado no Internacional Science of the Total Environment, no início de setembro, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e do Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG).

Por meio de análises físico-químicas e biológicas da qualidade da água em três fazendas de vieiras e dois locais próximos da baía em 2022, os cientistas descobriram que a redução da quantidade de clorofila coincidiu com a diminuição da produção da espécie nos últimos cinco anos. Os períodos mais quentes do ano, com temperaturas acima de 27°C, também podem ter contribuído para dificultar o desenvolvimento dos moluscos. Nos últimos 13 anos, durante períodos de águas mais frias e picos de clorofila, a produção de vieiras teve um aumento. 

De acordo com o professor Fabiano Thompson, um dos autores do trabalho, as contagens da Escherichia coli e de bactérias potencialmente patogênicas (Vibrios) foram significativamente mais elevadas nos períodos mais quentes nas águas da região. “Isso pode reduzir ainda mais a produtividade das vieiras. Embora as causas do colapso da produção no Sudeste tropical do Brasil ainda sejam desconhecidas, os resultados sugerem que o colapso da maricultura de vieiras é fruto de um efeito negativo sinérgico do aquecimento global e da má qualidade da água do mar”, afirmou.

Há menos de uma década, a região da Baía da Ilha Grande figurava como principal produtora de vieiras no país. A vieira, assim como o mexilhão e a ostra, é um tipo de molusco bivalve – tem uma concha que se abre em duas partes.  A espécie é a única nadadora entre as três e se movimenta graças a um músculo .

A produção consiste em aprisionar as vieiras em “lanternas”, gaiolas específicas assim chamadas pela semelhança com as lanternas orientais. Boias sustentam a estrutura no mar, enquanto, para homogeneizar a produção, pequenos grupos do molusco ficam em cada um dos segmentos submersos. As vieiras se alimentam de pequenas algas que filtram do mar. Quando a concha alcança mais de oito centímetros, por volta de um ano e meio após a “semeadura”, estão prontas para serem colhidas e vendidas nos mercados e restaurantes.

Desafios para a pesquisa e a inovação no Brasil

Pesquisadores e representantes dos setores público e privado se reúnem, nesta semana,, no VII Simpósio de Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para discutir os principais desafios da sociedade brasileira na atualidade. O evento, que conta com o apoio institucional do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), começa amanhã (12/9) e vai até quinta-feira, na sede da FGV, em Botafogo.

Para a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI), Luciana Santos, a ciência pode auxiliar a sociedade a enfrentar seus desafios. Segundo a ministra, o desenvolvimento do Brasil em novas bases tecnológica, e a inserção soberana do país na economia global dependem de um conjunto de políticas públicas capazes de transformar conhecimento em riqueza, por meio dos investimentos na área. “Nosso desafio é acelerar a transferência de tecnologia para gerar produtos e serviços que atendam às demandas da sociedade e do país, desenvolvendo soluções inovadoras em temas estratégicos, como combate à fome, biodiversidade, saúde, transição energética e transformação”, declarou.

De acordo com o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, “quando são reunidos esforços para pensar os desafios e soluções do hoje e do futuro, coloca-se em evidência a importância do fomento à ciência no Brasil”. Uma novidade no Simpósio deste ano é que pesquisadores de diferentes instituições, das mais diversas áreas de conhecimento, terão a oportunidade de apresentar propostas de projetos de pesquisa no intuito de construir parcerias.  

No ponto de vista do diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Álvaro Prata, as diferentes instituições que abrigam a ciência e o desenvolvimento científico precisam unir esforços e atuar em sinergia para superar os desafios da atualidade. “Os grandes desafios da atualidade envolvem questões muitas vezes conflitantes e que requerem amplo e profundo conhecimento científico para serem tratadas. A ciência deve ser este pilar sobre o qual nos apoiamos para avançarmos como civilização, superando os desafios e aproveitando as oportunidades que se apresentam”.

Entre as diversas instituições que participarão do evento, estão a UFRJ, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade de São Paulo (USP), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Embaixada da União Europeia no Brasil, além de agências de fomento como a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).Também estarão presentes pesquisadores estrangeiros da Queen Mary University of London (QMUL). O endereço da sede da FGV é Praia de Botafogo, 190 – Botafogo, Rio de Janeiro.

Combate à indústria da desinformação

Para orientar políticas públicas que assegurem à população brasileira se resguardar de ações fraudulentas na internet, a UFRJ deve entregar ao governo federal, no ano que vem, um banco de dados com contas e páginas falsas que enganam consumidores, roubam dados pessoais ou aplicam golpes. A ferramenta é apenas uma das armas que o Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais (NetLab) vai desenvolver para combater a crescente indústria da desinformação na era digital.

A estratégia é mapear e coletar evidências científicas sobre ações nas mídias sociais e na web que se valem de técnicas para manipular os consumidores no ambiente online.“Como o tema da regulamentação da internet é uma das grandes questões do nosso tempo em vários países, inclusive no Brasil, compreender essa indústria paralela é um dos pontos-chave da nossa pesquisa”, disse a fundadora e diretora do NetLab, a professora Rose Marie Santini, da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ).

Segundo a docente, pesquisadores brasileiros têm se dedicado cada vez mais a esse tema e desenvolvido projetos excelentes, mas ainda há muito a ser explorado. “O NetLab tem seis linhas de pesquisa dedicadas a isso, com diferentes projetos em cada uma. O Laboratório desenvolveu uma infraestrutura tecnológica própria de coleta e análise de dados em plataformas digitais para produção de relatórios e artigos científicos, em função dos nossos objetivos de pesquisa”, informou. 

As evidências são coletadas em plataformas como Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, Telegram, YouTube, WhatsApp, Meta Ads e Google Ads, além de artigos publicados nos principais portais de notícias do país e também de mídias locais e alternativas. Os estudos nesse campo demonstram que certos públicos são alvos mais frequentes de campanhas de desinformação – e não é raro que entre eles estejam justamente as pessoas mais vulneráveis do ponto vista social, cultural e econômico.

Para dar conta do desafio, o NetLab obteve financiamento no início de agosto, por meio do Fundo de Direitos Difusos da Secretaria Nacional do Consumidor (FDD/Senacon), administrado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). Serão empregados 1,9 milhão de reais em pesquisas que, de forma contínua, serão desenvolvidas com a evolução do campo de estudos e em constante diálogo com os objetivos do MJSP e da Senacon.

O NetLab recruta novos pesquisadores nas áreas de Comunicação, Ciência Política, Economia e Tecnologia da Informação de forma recorrente, conforme a expansão das áreas de atuação e seguindo as exigências formais da UFRJ. “Como atuamos em várias áreas, contamos também com uma equipe multiprofissional a partir da qual cada frente possui demandas e exigências específicas”, explicou Santini. Quem tiver interesse em trabalhar nos projetos do NetLab deve acompanhar a abertura de novos processos seletivos no site do Laboratório (www.netlab.eco.ufrj.br) e em suas as redes sociais (@netlab_UFRJ no Twitter e @netlabUFRJ no Instagram).

Réptil brasileiro indica que dinossauros e pterossauros evoluíram entre diversos precursores

Ao combinar informações anatômicas do esqueleto bem preservado de um novo réptil encontrado no Brasil, em 2014, e batizado de Venetoraptor gassenae, pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro e de Santa Maria, além de outras duas instituições internacionais, concluíram que dinossauros e pterossauros evoluíram entre diversos precursores. Os detalhes do trabalho foram publicados ontem (16/08) na Nature, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo.

De acordo com os autores do estudo, a enorme diversidade de dinossauros e pterossauros na era Era Mesozoica começou a florescer entre linhagens divergentes precoces e não apenas após as origens dos gigantes que dominaram a terra e os ares no antigo supercontinente único Pangeia. 

Para os cientistas, o “sucesso” de pterossauros e dinossauros foi resultado de uma sobrevivência diferenciada entre um grupo mais amplo no qual estão inseridos. Denominado Ornithodira, esse grupo evoluiu conforme os recursos disponíveis e adaptações ao meio ambiente. Dessa forma, o trabalho dos pesquisadores altera a compreensão sobre a diversidade dos precursores de dinossauros e pterossauros.

A espécie descoberta no município gaúcho de São João do Polêsine pertence ao grupo Lagerpetidae e tinha um crânio com um bico afiado semelhante a um raptor, precedendo os dinossauros por cerca de 80 milhões de anos. Além disso, possuía uma grande mão com garras longas e afiadas, o que certamente estabeleceu a perda do quadrupedalismo obrigatório nessas linhagens precursoras. 

A nova espécie de lagerpetídeo tem uma combinação de características inesperadas e foi baseada em um  esqueleto parcial, mas bem preservado, desenterrado dos leitos do Triássico Superior do Brasil (cerca de 230 milhões de anos atrás), dos mesmos estratos fossilíferos que produziram alguns dos dinossauros mais antigos do planeta.

Com o estudo publicado, fica evidente que a diversidade morfológica e ecológica dos primeiros Ornithodira era consideravelmente mais ampla do que se pensava. Agora, há evidências de vários subgrupamentos a partir de um ancestral comum e todos seus descendentes, viventes ou extintos – como aphanosauros, lagerpetídios e silesauríeos distribuídos em toda a Pangeia”

A denominação Venetoraptor gassenae mistura a palavra raptor (que em latim significa “saqueador”) com a palavra Veneto, em referência a “Vale Vêneto”, uma localidade turística no município de São João do Polêsine, no Rio Grande do Sul.O epíteto específico homenageia a senhora Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das principais responsáveis ​​pela fundação do Centro de Apoio a Pesquisas Paleontológicas da UFSM.

Mudanças no clima afetam distribuição da cascavel no Brasil

Em um estudo inédito, pesquisadores da UFRJ demonstram que as mudanças climáticas estão afetando a distribuição da cascavel (Crotalus durissus) para áreas de floresta como a Amazônia e a Mata Atlântica. Desde 1950, cientistas acreditavam que a expansão da espécie, responsável pela maioria das mortes por picada de cobra no Brasil, era decorrência do desmatamento no habitat típico das serpentes, as regiões de vegetação aberta. Todavia, recentemente os cientistas passaram a desconfiar também das alterações no clima e, em artigo recém-publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, acabaram de comprovar essa hipótese.

Métodos modernos de modelagem de distribuição geográfica em cenários de mudanças climáticas e do uso do solo foram utilizados no estudo, mostrando que 34% da expansão é explicada pelo aumento das pastagens e 23% pela redução das chuvas no trimestre mais frio, o que modificou a distribuição da espécie nas últimas décadas. “Visto que as mudanças climáticas já são uma realidade, o reflorestamento e o controle do desmatamento são, hoje, a maneira mais eficaz de conter a expansão da cascavel pelo Brasil”, destaca a professora Mariana Vale, do Instituto de Biologia, coautora do estudo.

A descoberta causa preocupação, pois a expansão da cobra peçonhenta já chega a áreas da região Sudeste antes não ocupadas pela espécie. “É onde se concentra a maior parte da população brasileira, aumentando muito as chances de acidentes ofídicos”, afirma Gabriela Guerra, pesquisadora do Museu Nacional, outra autora do estudo, o primeiro a demonstrar a expansão da distribuição de uma serpente de importância médica em decorrência das mudanças climáticas.

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