Sem blindagem, besouro intriga cientistas

Com a participação do estudante de doutorado do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ, Felipe Francisco Barbosa, um artigo sobre um novo gênero e espécie de besouro tem feito muito sucesso no exterior, inclusive com destaque no New York Times.  A espécie foi batizada de Xenomorphon barannowskii, que se caracteriza pela incomum ausência de asas e de élitros (estrutura protetora sobre as asas que se levanta quando o besouro voa). O inseto ficava na coleção científica da Universidade de Lund, na Suécia, para onde foi levado pelo naturalista sueco Richard Baranowski, em 1991, após uma expedição a Oaxaca, no México.

O pesquisador do Canadian Museum of Nature, Vinicius Ferreira, é coautor do estudo publicado na Zoological Journal of the Linnean Society .  Além da descrição da espécie, os cientistas apresentam as hipóteses para possíveis vantagens evolutivas e é aí que o doutorando da UFRJ entra na história. Ferreira e Barbosa fizeram o mestrado juntos no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), mas, enquanto o primeiro foi para o exterior, o segundo decidiu se especializar em evolução biológica e métodos filogenéticos aqui no Rio de Janeiro. 

Mistério evolutivo

As hipóteses para que o Xenomorphon barannowskii tenha se desenvolvido sem asas e élitros são duas. A primeira está relacionada com a chamada síndrome de pedomorfia, que faz com que os indivíduos adultos de uma espécie mantenham as características encontradas nas formas juvenis. No caso de besouros, significa se parecerem com suas larvas – sem élitros nem asas.

O inseto ficava na coleção científica da Universidade de Lund, na Suécia | Foto: Reprodução

A outra possibilidade tem relação com o ambiente em que os insetos vivem. Em grandes altitudes, outras espécies de besouros e insetos possuem capacidade de voar reduzida, em decorrência dos fortes ventos mais frequentes nos topos de montanhas. Mas o que se observava era, em alguns casos, a ausência de asas membranosas. A completa perda de élitros em machos é inédita.

Os besouros estão entre os animais com o maior número de espécies conhecidas na face da Terra. Das cerca de 1,2 milhão de espécies descritas da fauna, quase 90% delas são insetos, e os besouros correspondem por cerca de 40% de todas, com números estimados entre 350 a 400 mil espécies. Para os cientistas, um número tão grande tem relação com a sobrevivência, graças aos élitros, após grandes extinções em massa, incluindo a que matou os dinossauros há cerca de 65 milhões de anos. A proteção sempre permitiu que os besouros explorem locais de difícil acesso para outros insetos alados, como frestas apertadas ou ambientes aquáticos. Não à toa que a origem do termo Xenomorphon, escolhido para nomear o gênero sem blindagem ou asas, venha do grego e significa “forma estranha”.

Professora da UFRJ lança livro infantil sobre cientistas negras do Rio

A professora Ana Lúcia Nunes de Sousa, do Instituto Nutes/UFRJ, realiza hoje (5/7) o lançamento do seu primeiro livro infantil por meio de uma live no canal @kitembo_literatura, que começará às 19h. O título é Luanda no mundo da ciência: a obra aborda, de forma lúdica, as histórias de cientistas negras do Rio de Janeiro a partir do olhar infantil da personagem. 

O livro foi produzido no bojo das ações dos projetos de extensão “Mulheres negras fazendo ciência” (Cefet-RJ/Maria da Graça) e “As incríveis cientistas negras: educação, divulgação e popularização da ciência” (UFRJ), que Souza coordena na Universidade. A professora é também jornalista, documentarista e especialista em relações étnico-raciais na educação básica.

A produção do material recebeu apoio do British Council, por intermédio da Segunda chamada Garotas Stem: formando futuras cientistas; da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, pelo programa Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação – 2021; e também da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, por meio do programa de bolsas Profaex.

Pesquisadores da UFRJ lançam jogo digital sobre medicamentos

Para permitir ao grande público a compreensão dos processos que permitem o desenvolvimento de um novo medicamento, uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveu um jogo digital, o DiscoveRx, que já está disponível gratuitamente na plataforma Google Play e também no itch.io para uso on-line em um PC ou em celulares . Os pesquisadores querem não só conquistar os jovens atraídos por jogos digitais, mas também adultos leigos no assunto, que ficaram curiosos sobre como atua a indústria farmacêutica na prevenção, cura ou controle de numerosas doenças.

A proposta dos criadores é tornar o jogo uma ferramenta importante de divulgação científica para a população e usá-lo também como material complementar para alunos de graduação em Farmácia e áreas afins. “Uma versão beta foi lançada em setembro de 2022, mas a versão atual, sujeita à ampla divulgação após melhorias, está disponível desde abril deste ano. Em função da demanda cada vez maior da sociedade civil por informação de qualidade, entendemos que a divulgação científica é muito importante, ainda mais no que se refere a este tema tão atual após a epidemia de Covid-19”, destacou um dos responsáveis pelo jogo, o professor François Noël, do Instituto de Ciências Biomédicas. Além dele, docentes das áreas de Ludologia e Engenharia de Computação formam a equipe liderada pelo professor Geraldo Xexéo, da Coppe UFRJ, especialista em criação de jogos.

No total, o DiscoveRx é composto por sete minijogos sequenciais, sendo os três primeiros públicos. Aos poucos a versão atual (1.2.5) será automaticamente atualizada, à medida que os autores criarem e lançarem os outros quatro minijogos. A meta é alcançar um público internacional, já que o jogador pode escolher entre quatro idiomas (português, inglês, espanhol e francês).

Diagnósticos de doenças serão mais precisos na UFRJ


Com a presença da ministra da Saúde, Nísia Trindade, o novo prédio do Centro de Pesquisas em Medicina de Precisão (CPMP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro será inaugurado no dia 30/6, às 17 horas, na Cidade Universitária. A secretária de Educação Superior e ex-reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, e o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, também confirmaram presença na inauguração do centro, que abre uma nova perspectiva para a descoberta de novos tratamentos.


Com cinco pavimentos, o prédio tem a área total de 5.060,15 metros quadrados para a realização de pesquisas laboratoriais de um segmento da medicina que traz mais segurança ao diagnóstico de doenças, uma vez que utiliza dados genéticos que permitem a personalização do tratamento e torna todo o processo mais eficaz. A obra foi financiada com recursos do CT-Saúde, um dos fundos setoriais vinculados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Hoje, já são cerca de 170 profissionais trabalhando no local, entre professores, pesquisadores, tecnólogos, pós-graduandos e alunos de graduação.


Além do prédio principal do CPMP, há edificações de apoio: depósito de resíduos (comum e infectante), central de gases, central de nitrogênio líquido, geradores e reservatório de diesel. Os profissionais do novo centro de pesquisas terão equipamentos para investigar a fundo individualidades do organismo humano a partir da identificação das características genéticas de doenças hereditárias e complexas, promovendo pesquisas com base nas características de cada paciente ou de grupos.


A descoberta de novos tratamentos para doenças humanas é um processo complexo que começa na pesquisa básica, com células in vitro, estende-se pela pesquisa translacional, com animais in vivo, e apresenta sempre a etapa de ensaios clínicos, na qual, em uma das fases finais, indivíduos acometidos pela doença estudada são submetidos ao tratamento testado. Esse longo processo experimental é custoso e, frequentemente, resulta em medicamentos ineficazes ou com efeitos colaterais graves.


Com os novos estudos da medicina de precisão, são gerados dados que podem ser úteis na prevenção e diretamente na intervenção médica. Esse conhecimento também pode somar as informações já convencionalmente usadas para diagnóstico e tratamento – sinais, sintomas, história pessoal/familiar e exames complementares – ao perfil genético do indivíduo.


Em futuro próximo, ao perfil genético será possível aliar os perfis proteico e metabólico de uma pessoa, proporcionando a produção de terapias e medicamentos mais eficazes. Para a indústria, é a chave do desenvolvimento de soluções para pacientes que não respondem a tratamentos convencionais e pode, potencialmente, reduzir os custos e a demora dos ensaios clínicos.


De acordo com o diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), Robson Coutinho Silva, a capacidade de fazer exames sofisticados usando o parque de equipamentos do prédio já existe. “Os estudos no CPMP buscam também viabilizar no futuro que essa abordagem seja acessível a toda a população pelo SUS. Todavia, dependerá de investimento institucional em pessoal especializado para a prestação desse tipo de serviço, bem como da demanda médica, uma vez que exames da medicina de precisão não estão disponíveis à população”, esclareceu.


O Centro de Pesquisas em Medicina de Precisão está localizado na esquina da Avenida Carlos Chagas Filho com Rua Maria Dolores Lins de Andrade. O terreno encontra-se na área de expansão do Centro de Ciências da Saúde (CCS), denominada CCS 2. O CPMP faz parte do IBCCF. “Este é o primeiro prédio do IBCCF fora da área original, mas o instituto tem como meta construir outras edificações, com a mesma característica inovadora, para a transferência de todos os demais laboratórios que compõem o instituto”, concluiu Coutinho Silva.

Descoberta aponta vilões da hipertensão

Em cada dez pessoas com hipertensão, seis apresentam hipersensibilidade a uma dieta rica em sal. Entender o mecanismo pelo qual os hipertensos desenvolvem essa suscetibilidade é o objetivo do grupo de pesquisa liderado pela professora Lucienne da Silva Lara, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB),  também  pesquisadora do Centro de Pesquisa em Medicina de Precisão, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em artigo publicado em maio na revista International Journal of Molecular Sciences, os pesquisadores apontaram a existência de três “vilões” que desestabilizam o sistema renal dos pacientes, com a retenção de sódio e líquidos. De acordo com a professora, “quando um sensor de sódio (Nax), uma proteína cinase induzida por sal (SIK) e o transportador (Na++K+) ATPase trabalham de forma elevada nos rins, ocorre aumento da reabsorção de sódio e água, e isso pode explicar o desenvolvimento da hipertensão sensível ao sal”.

Uma série de outros estudos clínicos que avaliavam a hipertensão de diferentes grupos de pacientes (gênero, etnia, condição socioeconômica e gravidade da doença) confirmou que uma dieta rica em sal causaria hipertensão. Entretanto, jamais houve consenso entre os pesquisadores sobre o que levaria à hipersensibilidade.

Utilizando um modelo pré-clínico, os autores mostraram que, em ratos sadios submetidos à elevada ingestão de sal, o trio de moléculas tem as atividades elevadas, contribuindo para a retenção de sódio e líquido. Os ratos do experimento não desenvolvem hipertensão, mas apresentam uma leve disfunção renal. Em animais hipertensos submetidos à elevada ingestão de sal, o trio desconecta-se e o sensor de sódio passa a disparar mecanismos que contribuem para a perda da função renal. Com a função renal prejudicada, os roedores alcançam níveis altos de pressão arterial.

Para os autores do artigo, a descoberta pode abrir novos caminhos na produção de fármacos que agem diretamente para manter harmônica a orquestra executada pelo trio, evitando o desenvolvimento da hipertensão sensível ao sal. O trabalho contou com a participação de alunos bolsistas de mestrado e doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) – Bolsista Nota 10 – e com o apoio das agências de fomento CNPq e Fapesp. Colaborou também a professora Minolfa Prieto da Tulane, da Universidade de Nova Orleans, Estados Unidos.

Planta nativa brasileira produz canabidiol sem associação com substâncias alucinógenas

Uma espécie nativa brasileira, a Trema micrantha blume, pode ampliar o uso do canabidiol (CBD) para fins medicinais sem barreiras legais. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram a substância nos frutos e flores, mas sem estar misturada com o tetrahidrocanabinol (THC), de efeito psicoativo, presente na Cannabis sativa, que é proibida de ser cultivada por produzir droga alucinógena, a maconha.

O coordenador da pesquisa, Rodrigo Soares Moura Neto, do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ, explica que a Trema micrantha blume conseguiria transpor as barreiras legais impostas hoje à Cannabis. No ano passado, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) determinou que os médicos só podem prescrever o CBD para tratamento de epilepsias na infância e na adolescência. No entanto, o Congresso Nacional brasileiro ainda discute a liberação do cultivo da Cannabis em escala industrial, como ocorre nos Estados Unidos, no Canadá e em Portugal.

De acordo com Rodrigo Moura Neto, quando se comercializa canabidiol, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impõe restrição na fórmula, que só pode ter 0,2% de THC. “No caso da planta brasileira, isso não seria um problema, porque não existe nada de THC nela. Também não haveria a restrição jurídica de plantio, porque ela pode ser plantada à vontade. Na verdade, ela já está espalhada pelo Brasil inteiro. Seria uma fonte mais fácil e barata de obter o canabidiol”, informou.

Químicos, biólogos, geneticistas e botânicos estão mapeando os métodos mais eficazes de análise e extração do canabidiol da planta. Segundo o professor, em seis meses começarão os processos in vitro, quando será analisado se o componente tem a mesma atividade que o canabidiol extraído da Cannabis sativa. A pesquisa conta com R$ 500 mil de recursos, obtidos por meio do edital de Ciências Agrárias, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do estado.

Físicos da UFRJ criam armadilha para íons

Pesquisadores do Laboratório de Super-Espectroscopia (Laser), do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram uma técnica inovadora para aprisionar íons a baixas temperaturas. É a primeira máquina para confinar íons do Brasil, sendo também a primeira armadilha de Penning − batizada assim em homenagem ao físico sueco Frans Michel Penning − da América do Sul. O trabalho foi publicado na Communications Physics, o braço de física da Nature Communications.

Utilizando a técnica denominada de Sublimação de Matriz de Isolamento (MISu, acrônimo em inglês), desenvolvida pelo Laser/UFRJ, os pesquisadores formam ânions e cátions frios. A armadilha de Penning é um sistema no qual se utilizam campos magnéticos e elétricos estáticos para confinar íons em um pequeno espaço, pelo tempo necessário para que se possam realizar medições. Essa inovação brasileira de produção de ânions tem potencial para aplicações em pesquisas com antihidrogênio e para medidas da massa de neutrino, da formação molecular em meio interestelar e da homoquiralidade das moléculas biológicas, por exemplo. Já a produção de elétrons polarizados pode colaborar, por exemplo, nas pesquisas relacionadas à quiralidade e informação quântica.

De acordo com o físico Claudio Lenz Cesar, um dos líderes da pesquisa, o domínio da tecnologia abre diversas oportunidades de aplicação. “Essa técnica que inventamos de gerar ânions de hidrogênio é inédita, não se tinha nenhuma fonte de hidrogênio assim em baixa energia. Isso abre enorme gama de aplicações, seja em Física Fundamental a estudos que nem imaginamos”, explica ele, que é um dos líderes da pesquisa e que assina o artigo junto com os cientistas Levi Oliveira de Araújo Azevedo (doutorando), Rodolfo de Jesus Costa (aluno do programa de Mestrado Aplicado Multidisciplinar), Álvaro Nunes de Oliveira (Inmetro/IF-UFRJ), e os professores Rodrigo Lage Sacramento, Daniel de Miranda Silveira e Wania Wolff.

Fechando o ciclo

Durante apresentação do balanço administrativo da Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro nos últimos quatro anos, que aconteceu na Plenária de Decanos e Diretores de Unidades, o reitor da UFRJ em exercício, professor Carlos Frederico Leão Rocha, fez uma dura constatação a respeito das condições financeiras da instituição: por milagre, a Universidade não fechou as portas com o descaso intencional com a educação no governo de Jair Bolsonaro e durante a pandemia de Covid-19. A plenária, que ocorreu na segunda-feira, 5/6, no auditório do Centro de Gestão Tecnológica (CGTEC 2), na Cidade Universitária, foi também a despedida para fechar o ciclo da gestão liderada pela professora Denise Pires de Carvalho, que deixou o cargo vago em janeiro para ocupar a Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC). 

Antes de cada pró-reitor informar os números e resultados de suas ações durante o evento, Maria Antonieta Gimenes, do Núcleo de Pesquisa Institucional (NPI) da UFRJ, advertiu sobre o atraso na entrega das planilhas de recadastramento de instalações. Segundo ela, em 2023, o MEC fará o recredenciamento da Universidade, não apenas na graduação, mas em todas as atividades administrativas, acadêmicas e de saúde. “Nós solicitamos o preenchimento da planilha enviada em outubro do ano passado. No entanto, só recebemos o retorno de menos de 65% das unidades e setores da UFRJ. Solicitamos a todos que preencham os dados no prazo estabelecido pelo ofício do reitor. É uma exigência do Ministério. Além disso, em uma segunda fase, iremos cadastrar todos os docentes da Universidade. São mais de 5 mil, inclusive os substitutos. Se não houver a atualização, há o risco de intervenção administrativa do MEC.”

Na abertura da plenária, o reitor fez questão de destacar que o evento seria uma espécie de prestação de contas para toda a comunidade universitária da UFRJ. Segundo ele, a gestão passou por vários momentos turbulentos desde 2019, com um dos menores orçamentos da história e sendo obrigada pela pandemia a realizar as atividades acadêmicas de forma remota. “Foi um sofrimento para todo mundo. Acho que a Universidade teve atuação brilhante nesse período. O retorno ao presencial também foi um período difícil, pois desenvolvemos diversos hábitos”, disse Rocha, que lembrou os  incêndios que aconteceram antes e durante o período em que a equipe esteve à frente da instituição.

Carlos Frederico Leão Rocha é reitor da UFRJ em exercício | Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

Para o reitor, as dificuldades foram superadas e trouxeram lições: “Nós conseguimos recursos, inclusive da iniciativa privada, para recuperar o Museu Nacional. É uma vitória da Universidade. Houve também um incêndio na residência estudantil e já entregamos, neste semestre, o bloco B recuperado. Embora sem estar em pleno funcionamento todo o prédio, o 5º, o 6º e o 7º andares do edifício Jorge Machado Moreira voltaram a ser abertos, e continuam as obras para restaurar toda a edificação. Tivemos o incêndio do Núcleo de Pesquisa e Documentação, que foi causado na área da procuradoria. E estamos entregando o NPD, se não todo pronto, com os recursos já destinados”, enfatizou.

O processo licitatório para a construção de uma arena multiuso no campus da Praia Vermelha, na área ocupada pela antiga casa de espetáculos Canecão, também foi uma conquista, segundo Rocha. “As edificações previstas como contrapartida para o projeto são equivalentes ou maiores do que tudo construído e finalizado no Reuni, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. É um passo importante e uma mudança no processo de gestão”, disse.

O reitor ressaltou ainda que está sendo ampliada, em cerca de 50%, a capacidade de fornecimento de refeições para os estudantes, com obras dos restaurantes universitários na Praia Vermelha e no Centro de Tecnologia (CT). Rocha frisou a importância do trabalho realizado por toda a equipe, que jamais comprometeu o rendimento da Universidade, mesmo com as trocas de gestores nas pró-reitorias, com as saídas de Gisele Pires, Denise Freire e Alexandre Brasil. 

Os interessados em acompanhar toda a Plenária de Decanos e Diretores e ver como foi o desempenho de cada um dos gestores poderão assistir ao encontro no canal da UFRJ no YouTube:

Forma agressiva de câncer cerebral regride após infecção por vírus

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer descreveram pela primeira vez um caso clínico que evidencia infecção por flavivírus, gênero de arbovírus que apresenta grande incidência de infecção em todo o mundo, e regressão do glioblastoma, forma agressiva de câncer cerebral de opções de tratamento limitadas e prognóstico pessimista. O caso foi descrito em estudo publicado no Journal Frontiers in Medicine, em Junho.

Em abril de 2016, a paciente recebeu o diagnóstico de que estava com glioblastoma, sendo logo submetida à ressecção cirúrgica do tumor, seguida de tratamento padrão com radioterapia e quimioterapia. Três semanas e meia após a cirurgia, ela foi diagnosticada com uma infecção semelhante à provocada por arbovírus. A infecção causou febre, erupção cutânea e dores musculares, durando sete dias.

Com a infecção curada, observou-se que o glioblastoma havia regredido, com a paciente sem recorrência da doença por mais de sete anos. Acompanhada regularmente com tomografias cerebrais, atualmente se encontra assintomática, saudável, trabalhando ativamente e não faz uso de medicamentos como anticonvulsivantes.

Os pesquisadores disseram que o caso forneceu “uma perspectiva emocionante” de que a infecção viral havia contribuído para a regressão do glioblastoma, possivelmente eliminando as células-tronco do câncer.

Estudos pré-clínicos anteriores mostraram que o vírus da zika pode desencadear a morte de células-tronco de glioblastoma, mas a atividade oncolítica não foi demonstrada em pacientes humanos. “A reatividade cruzada é uma importante limitação no diagnóstico das arboviroses. Embora não tenhamos condições de afirmar se foi o vírus da zika ou da dengue, pois as amostras de sangue dela ocorreram três anos depois da infecção, encontramos evidências de um caso de atividade natural oncolítica. Tivemos dificuldades em bater o martelo se foi zika ou dengue. Em 2016, havia um surto enorme de zika no Rio, mas consideramos também dengue, que é endêmica na cidade”, explicou a professora Patrícia Garcez, uma das pesquisadoras do artigo.

O vírus da zica, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, ganhou atenção internacional em 2015 e 2016 devido ao grande surto no Brasil e sua associação com malformações congênitas graves, como a microcefalia, em bebês nascidos de mães infectadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma emergência de saúde pública de interesse internacional em fevereiro de 2016. Desde então, o vírus se espalhou para outros países do mundo.

Os pesquisadores também alertaram que o relato de caso foi limitado a um único paciente e não conseguiu estabelecer a relação causal entre a infecção pelo vírus da zica e a regressão do glioblastoma. Segundo eles, são necessários mais estudos para investigar o uso potencial do flavivírus como nova estratégia terapêutica para o glioblastoma e outros tipos de câncer. “Esse caso nos chegou graças à divulgação da imprensa sobre nosso trabalho. A paciente entrou em contato conosco e relatou seu caso clínico. Fomos atrás dos médicos envolvidos para investigar mais. É o caso natural de flavivírus atuando como agente oncolítico.”

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Risco de apagão universitário

A partir de outubro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deverá dar os primeiros sinais de paralisação de atividades por falta de recursos financeiros para pagar os contratos estabelecidos para o ano. A crise é consequência do bloqueio de 7,2% do Orçamento de 2022, após ele ter sido aprovado, fruto de um decreto do presidente Jair Bolsonaro (PL). A medida foi uma verdadeira rasteira nos gestores das instituições públicas de ensino superior, que regressaram ao ensino presencial buscando trabalhar de forma planejada, apesar das reduzidas verbas que caem ano a ano.

O pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, professor Eduardo Raupp, acreditava que o ano de 2022 seria de desafios, mas havia um planejamento já feito para o empenho dos recursos com a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA). O corte inicial de 14,54%, que depois se torno de 7,2% na semana passada, do orçamento discricionário – a parte usada para pagar os contratos de segurança, manutenção e limpeza, serviços de energia elétrica e saneamento – coloca a universidade em uma situação dramática. “No início do ano, a gente já calculava que não seria verba suficiente para cobrir os dois últimos meses em função do que ficou pendente do ano passado e da necessidade de atender aos aumentos de contratos em 2022, por conta dos dissídios coletivos. Mas esse bloqueio retira do nosso orçamento algo em torno de R$ 25 milhões, o que equivale a um mês de funcionamento. Se o bloqueio não for revertido, vai ser muito difícil manter a Universidade operando plenamente”, afirmou.

Segundo Raupp, todos os pagamentos estão assegurados até o fim de julho. Por obrigação contratual, as empresas devem dar garantias de manutenção dos serviços até 60 dias após o último mês pago. “Até outubro contávamos em honrar os compromissos e iríamos administrar em novembro e dezembro os casos emergenciais. Agora, o bloqueio está antecipando esse cenário para agosto. Então, setembro, outubro, novembro e dezembro estariam descobertos. A gente estima o impacto de empresas parando entre setembro e outubro. E, sinceramente, sem a reversão do bloqueio, parece inevitável”, revelou o pró-reitor.

Basicamente, a dotação orçamentária para a Universidade está dividida em dois grandes grupos: uma parte para pessoal (ativos e inativos) e outra de orçamento discricionário. Para as despesas de pessoal, a UFRJ terá para pagar  R$ 3.028.627.415,00, uma pequena redução de 2,72% em relação à LOA 2021. Para as despesas discricionárias, o orçamento era de R$ 329.290.643,00 – e sobre esse valor haverá uma perda de 14,5%.

Para complicar a situação, com a redução significativa do orçamento discricionário da UFRJ de 2020 para 2021 – quando foram cortados por volta de R$ 75 milhões –, após ajustes nas contas com base em um planejamento prévio, ao final do ano passado havia um passivo na ordem de R$ 20 milhões, que precisariam ser honrados com o orçamento de 2022. “Estávamos na expectativa de reduzir essa previsão de déficit. O que equivaleria a chegar não aos R$ 90 milhões, mas em R$ 40 ou RS 50 milhões que carregaríamos para o ano de 2023. Agora isso está pulando para R$ 100 milhões, apesar de todo o controle que procuramos fazer”, enfatizou Raupp.

A assistência estudantil por enquanto estará preservada, uma vez que a UFRJ entende a necessidade de dar apoio a muitos jovens que regressaram aos estudos após a pandemia. “Nesse momento não deixamos a assistência estudantil ser atingida. Estamos preservando as bolsas e auxílios, mas, se nada mudar, uma série de investimentos serão afetados e terão que ser postergados, a exemplo dos projetos de benfeitorias no entorno do alojamento estudantil. Todas as intervenções que permitiriam o funcionamento adequado do novo bloco e do entorno estarão comprometidas”, disse Raupp.

No ponto de vista do pró-reitor, esse bloqueio não decorre apenas de um problema orçamentário ou financeiro, é uma escolha política do governo. Surpreende a ação em um contexto atual, em que, paradoxalmente, a arrecadação bate recordes. As emendas parlamentares e outras áreas que são de interesse do Executivo estão sendo preservadas, mas educação, ciência e tecnologia e saúde estão sendo sacrificadas.

Como destacou Eduardo Raupp, o problema não está na gestão das instituições. “Não é que a gente esteja sempre pedindo mais e não fazendo nada.  Ao contrário, o nosso orçamento caiu muito em termos reais, mas temos conseguido adequar as nossas necessidades. Com certeza, houve muitos avanços. O ideal é que tivéssemos um orçamento discricionário por volta de R$ 410 milhões em 2022 – e esse já seria um valor inferior ao que recebíamos há 10 anos, que, em termos reais, era acima de 500 milhões. Todo o esforço feito em termos de aprimoramento de gestão demonstra que nós conseguimos reduzir os nossos custos, mas cortar o orçamento após ter sido liberado é algo inédito e sem sentido administrativo, algo que só é adotado por quem não preza a educação pública”.

Com a ajuda da opinião pública e dos parlamentares, as instituições esperam reverter o bloqueio, que parece destinado a ser uma pá de cal na educação pública superior e no desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

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